A opinião de ...

Visita II

“…Os que não conseguem lembrar o passado estão condenados a ter que o repetir” (George Santayana, 1863-1952 – poeta e filósofo espanhol).

Socorro-me desta citação porque vale a pena refletir sobre o modo como os ingleses preservam a sua História. E a sua Natureza.
Caminhe-se nas cidades e logo seremos surpreendidos por inúmeras invocações: catedrais, igrejas, castelos, museus, pontes; também pelos seus amplos espaços verdes abordados por crianças que brincam e jogam, e adultos que conversam e passeiam os seus cães. Vagueie-se nos campos e de imediato ficaremos tocados ao vê-los cultivados a preceito, ou serpenteados por trilhos próprios para passeios, ou descobrir-se-ão casas de lordes com vastas áreas arborizadas, ou acolher-nos-á um qualquer local onde se travou uma batalha, insignificante seja. Caminhe-se à beira-mar e saltarão à vista a costa entrecortada por escarpas e areais, e ilhas ao largo, sugerindo o repouso do olhar. Imagine-se à beira dos lagos e nascerá o apetite de bordejá-los, ou viajar nas ferrovias icónicas, saudavelmente mantidas. A minha experiência em terras da rainha tem alguns anos. Posso testemunhar que os seus súbditos inovam de forma simples: escrevem profusamente livros de viagens e de brochuras sobre o que visitar no essencial, para quem vem do exterior. Entre outros, no The Great British Bucket List está o fundamental, por capítulos, da História e da Natureza no Reino Unido. Pois, se nós temos monumentos, praias, montanhas, pontes, percursos, miradouros e passadiços no interior e à beira-mar, e sol (!) – por que razão trazer estas informações? E temos literatura de viagem, vastíssima, de que vale a pena reter algo (nada de conselhos sobre o que ler, mas ler é preciso – clamava o grande jornalista e poeta Rogério Rodrigues): “Viagem a Portugal”, de José Saramago; “Por Este Reino Acima”, de Gonçalo Cadilhe; “As Estações da Vida”, de Agustina Bessa-Luís; “A Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima”, de João Caldeira Heitor (uma descrição de viagens até Fátima que contribui para se saber onde fica Portugal…!); “Impressões Insulares - Nos Açores com o quinhentista Gaspar Frutuoso”, de Joaquim Palma (é bom não esquecer as Regiões Autónomas!). Também Ramalho e Torga e Sofia: cada um à sua maneira e em tempos diversos, apresentam-nos Portugal nas suas paisagens humanizadas – aspetos multifacetados do território. Por mim, francamente, prefiro percorrer o Reboredo sobranceiro à Vila, ou apreciar os vinhedos em qualquer socalco do Douro (onde, lembre-se, os ingleses bem cedo investiram!), ou espreitar vales e montes do alto dos muitos miradouros que as autarquias vêm criando (o Dr. Nuno Gonçalves que o diga!), ou saborear uma merenda em família na serra do Montesinho, ou nadar na concorrida praia do Azibo, ou entrar nos nossos castelos e … recordar a História.
Temos de aprender a disponibilizar informação essencial sobre as nossas cidades, vilas e aldeias, contida em obras únicas, por capítulos, numa linguagem apelativa, independentes das brochuras (que se dobram e vão para o liso). Um pequeno país (territorialmente falando) com tantas e fortes assimetrias históricas e naturais! Vender a nossa História com qualidade – um desafio aos nossos autarcas.

Edição
3842

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