A opinião de ...

Comunicar ciência usando banda desenhada

Durante a pandemia por Covid-19, foi bem visível a importância de comunicar ciência para lidar com um vírus potencialmente perigoso. Aprendemos sobre esse novo vírus, sintomas que podemos ter quando estamos infetados, formas de reduzir a sua propagação, vacinas que foram surgindo com o intuito de nos proteger dos seus efeitos mais nefastos, etc. Este não é um caso único em que a comunicação de ciência pode ser crucial – e não é só nas questões de vida ou de morte –, algumas das decisões que tomamos como sociedade podem ser influenciadas pelo conhecimento coletivo que temos sobre ciência.

Eu sou biólogo e tenho feito comunicação de ciência sobre temas relacionados com alterações climáticas, biodiversidade e sustentabilidade. Temas que, n minha visão, são relevantes. Neste trabalho pude optar, em alguns casos, por comunicar no formato de banda desenhada, como no livro mais recente em que sou co-autor. Escrevi o guião, que foi desenhado e colorido pelos ilustradores Quico Nogueira e Nuno Duarte, e o livro foi publicado em 2021 em sete línguas diferentes, inclusivamente em português com o título “O jogo das alterações climáticas” (editora Polvo). A ideia era comunicar sobre os efeitos das alterações climáticas na Europa e o que estamos a fazer para lidar com esse desafio.

Porque optei pela banda desenhada? Primeiro, uma das vantagens deste meio é a simplicidade na transmissão de mensagens. A necessidade de comunicar através de desenhos, de reduzir a quantidade de texto e ter um número limitado de páginas, implicou focar-me naquilo que era essencial. Na banda desenhada, é o leitor que estabelece o ritmo de leitura, havendo também uma mistura entre imagem e texto que pode facilitar a aprendizagem.

Mais, este meio oferece a possibilidade de criar personagens e de contar histórias. Tendo em conta que o público-alvo do livro eram jovens de vários países europeus entre os 13 e os 18 anos, as duas personagens principais que criei eram dois jovens adultos: Sofia, uma jovem que começa a trabalhar na área de ambiente e que tem a tarefa de inventar um jogo de tabuleiro sobre alterações climáticas, e Gabriel, o seu irmão mais novo com um gosto pelas artes. Ambos fazem uma viagem de comboio pela Europa, contando histórias reais de pessoas reais que fui recolhendo durante a fase de escrita do guião do livro.

Mas nem tudo são vantagens, porque a banda desenhada é exigente no que diz respeito ao investimento de tempo e dinheiro. E também requer uma boa articulação entre argumentista e desenhador, o que nem sempre é fácil de acontecer.

Porque continuo a defender o formato? Apesar da pouca investigação que existe a comparar banda desenhada com texto, foi mostrado que a eficácia a passar a mensagem era semelhante. A vantagem é que os leitores revelam mais interesse em ler banda desenhada do que texto – o que pode aumentar o número de leitores. Assim, apesar do maior investimento de recursos, pode haver como retorno um maior impacto daquilo que estamos a tentar comunicar. Também é visível um interesse por parte de escolas, professores e alunos em usar a banda desenhada e outros meios de comunicação visual como uma forma de introduzir o tema ou complementar o material didático habitualmente existente.

Numa altura em que existe tanta informação disponível, com o acesso à internet e outras fontes, tornar a mensagem da ciência mais acessível e apelativa parece bastante sensato. É bom vivermos em sociedades bem informadas, capazes de tomar decisões adequadas, e que valorizem o conhecimento. E a banda desenhada pode ser uma das formas de o conseguir fazer.

Afiliações
Bruno Pinto
MARE- Centro de Ciências do Mar e do Ambiente
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
ARNET – Aquatic Research Network

Edição
3931

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