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Capela de Nossa Senhora da Cabeça, Nogueira. Parte I. “Todas as gerações me proclamarão Bem-Aventurada”!

Estendida no sopé da vertente Norte da Serra da Nogueira, assumindo-lhe a toponímia, a aldeia e freguesia dista 9km a sudoeste de Bragança. É atravessada por linhas de água que entroncam na ribeira de Vale de Conde que, por sua vez, desagua no rio Fervença. A Paróquia de Sancti Pelagii de Nugaria, Nogueyra ou Nogueira é antiga, de provável constituição durante o processo da Reconquista Cristã Peninsular contra os Almorávidas, no séc. X-XI. A invocação do padroeiro, nado na Galiza e mártir pelos Mouros, em 925, em Córdoba, é indicativo. Contemporânea do Mosteiro de Castro de Avelãs, o alargamento dos domínios deste abrangia o território de Nogueira, estabelecido no conturbado reinado de D. Sancho II (1223-1248). Disso deram nota as Inquirições de D. Afonso III (1258) e de D. Dinis (1290), numa altura de litígio patrimonial entre a Coroa, o Mosteiro do Castro e a Arquidiocese de Braga, com a Ordem dos Hospitalários também envolvida no processo. D. Dinis impôs foros régios e ‘livre-trânsito’ para os oficiais régios e o Mosteiro cobrava duas partes dos dízimos e metade da murtura. Em 1542, Nogueira foi doada à Casa de Bragança e, após criação do Bispado de Miranda e extinção do Mosteiro do Castro (1545), a Paróquia era pertença do Cabido da Sé, a quem competia nomear cura. A Igreja de S. Vicente de Bragança aqui também colhia benefícios. Em 1697, anexa à reitoria da Igreja de S. Bento de Castro de Avelãs, a de S. Pelágio, fora do povoado, foi ‘transladada’ e assente no espaço entre os ‘dois bairros’ da aldeia, onde se erguia uma Capela de S. Sebastião. Seria intervencionada na arquitetura exterior e decoração interior, com um cunho Barroco setecentista. Nesta altura, a freguesia de Nogueira ganharia estatuto independente de reitoria. Já no séc. XIX, no período subsequente às Invasões Francesas, erguer-se-ia no ‘Bairro de Baixo’ nova Capela de S. Sebastião, inicialmente particular, da família dos Borges de Gostei, que se tornaria devoluta, assumindo-a o povo no séc. seguinte. Entretanto, pelo menos desde o séc. XVI que Nogueira conta com outro Templo Católico, que constituirá o centro da nossa narrativa: a Capela de Nossa Senhora da Cabeça. Situada num cabeço cónico, a 825mt de cota, 1km a Noroeste da aldeia. Lugar castrejo, conhecido como da Cigadonha, terá sido povoado desde a Idade do Ferro e, depois, romanizado, de onde saíram quatro estelas, recolhidas na Casa do Adro em Viseu, a par de telhas e elementos de cerâmica. A área onde se implanta a Capela era o centro habitacional do espaço envolvente. A questão a colocar é quando foi edificado o Templo e das razões da sua original dedicação! Frei Agostinho de Santa Maria (Santuário Mariano e Imagens Milagrosas de Nossa Senhora, Tomo V, 1706), assente em informações do Abade da Igreja de S. João Baptista de Bragança, Manoel Camelo de Moraes, sobre a edificação da Capela vinca: “feyta a diligencia, nem por tradições se acha quem dè noticia de sua origem”. Quanto à dedicação, escreve que “não falta quem diga, que a causa do título, & invocação desta milagrosa Senhora, o tomàra do mesmo cabeço, ou monte em que foi edificado”. Acrescentando que “como a Senhora he muyto celebrada pela razaõ de aliviar a todos os que a ela recorrem com queyxas da cabeça, bem podemos entender que o titulo se lhe deo por aquelles, que desta queixa melhoràraõ”. E complementa com a suposição de que “bem poderà ser tambem, que a Senhora tyivesse outro titulo, que perderia com o das milagrosas melhoras, que os quixosos das molestas dores de cabeça alcançavão”. No interior da Capela, o arco triunfal apresenta a gravação 1600, aduzindo a ter sido edificada entre finais do séc. XVI e inícios do XVII. Mas é de supor a existência de ermida no demarcado cabeço, desde a Cristianização com os Suevos e os Visigodos, ou após a reconquista do Norte de Portugal aos Mouros. Já a dedicação a Nossa Senhora da Cabeça será sempre posterior a 1227, quando teve origem, e se disseminou, esta devoção Mariana. De facto, nesse ano, a 12 de agosto, o pastor andaluz João Alonso Rivas, tolheito de um braço, pastoreava as ovelhas nos contrafortes da serra Morena, a 18 km da cidade de Andujar. Através de ‘estranhos’ sinais sineiros, foi atraído para o Monte da Cabeça, no pico da serra. Então, numa gruta, o pastor viu e falou com a Virgem, que lhe curou o braço enfermo e o instou a edificar uma ermida no local, que seria dedicada à Santíssima Virgen de la Cabeza! Em Nogueira, o facto de a Capela estar implantada no cabeço da Cigadonha e as pessoas se lhe dirigirem com maleitas relacionadas com a cabeça tê-la-á denominado Nossa Senhora da Cabeça, algures entre os séc. XIII-XVI. Uma coisa é certa, no séc. XVIII a ermida, assumida como Santuário pelo povo, tinha na Senhora da Cabeça, “Santissima Imagem de roca, & de vestidos, muito antiga”, enorme devoção e tida como muito milagrosa (Frei Agostinho), compreendendo numerosa Irmandade (Memórias Paroquiais 1758).

 

Senhora da Cabeça

Exterior

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4049

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