Mirandela

Graça Morais inaugura a sua exposição “Linhas da Memória”

Publicado por Fernando Pires em Qui, 05/29/2025 - 11:43

A Estação das Artes (antiga estação da CP agora requalificada), em Mirandela, tem patente ao público até ao dia 2 de janeiro de 2026, uma exposição “Linhas da Memória” da autoria de Graça Morais com a curadoria de António Meireles, Diretor do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança.

A inauguração aconteceu, no domingo (25 de maio), dia em que o Município assinalou os 775 anos da atribuição da Carta de Foral.

A pintora transmontana marcou presença, sublinhando que esta mostra de arte contemporânea pretende “promover a reflexão sobre temas socialmente inquietantes e aproximar a sociedade à arte através da criação artística”.

Nascida em Vieiro, Vila Flor, em 1948, Graça Morais - que tem uma das mais ilustres obras da pintura contemporânea portuguesa – sublinha a sua preocupação “em fazer uma escolha de obras que nasceram numa aldeia muito perto de Mirandela, o Vieiro, onde nasci”, diz.

Mas, a pintora também destaca o simbolismo de apresentar estes quadros na antiga estação, agora transformada em Estação das Artes. “Muitas destas pessoas que estão aqui, fotografadas por mim e pintadas, muitas vezes vieram a Mirandela, no comboio, como eu usava e a minha mãe”, acrescenta.
“Gostava muito de vir à Mirandela, porque havia tudo. O mercado era ótimo, sobretudo recordo-me do mercado da Feira de Ano, antes do Natal, em que a minha mãe vinha comigo, comprar polvo, congro e bacalhau. E para mim aquilo era uma maravilha e lá íamos as duas carregadas para esta estação, onde entrávamos, e depois na estação da Abreiro tínhamos à espera, na altura dizia-se, o criado do dia”, recorda.

São os rituais femininos da zona campestre onde nasceu que marcam de forma muito particular o seu trabalho. Mulheres e bichos, muitas vezes ambos apresentados numa só figura, revelam as suas raízes e a vida difícil de quem trabalha o campo. “Tive a sorte de ter dois mundos: um mais ligado à terra, ao olhar, à intuição, e depois o Vieiro, realmente aquela relação com as pessoas que sempre tive, mas hoje vou lá e fico muito triste porque a minha mãe já morreu, aquelas mulheres que estão ali retratadas estão quase todas no cemitério, mas acho que a minha obra continua a falar delas e elas estão vivas, e isso é que é importante, o legado é este”, conta a pintora.

No entanto, Graça Morais, agora com 77 anos, revela que nos últimos tempos, o seu trabalho está muito ligado à situação atual no mundo. “Tenho andado muito angustiada, só as pessoas muito egoístas ou meias estúpidas é que não se preocupam com a situação que o mundo está a atingir, e a própria Europa, porque nós estamos entalados entre uma guerra na Ucrânia e entre um louco que está a governar a América, que são pessoas sem coração e que estão a fazer muito mal ao mundo”, diz.

Recém-chegada de uma visita a Paris, Graça Morais confessa que gostou imenso de voltar às suas raízes. “Estou cá há quatro dias para orientar esta exposição, e fiquei tão cheia de felicidade, porque as estradas estão cheias de malmequeres, as gestas estão amarelas e acho que a natureza dá-nos força. Temos é que olhar para ela. E eu agora vou pintar esta força antes que venha o sol e queime tudo”, garante.

A exposição vai estar patente ao público na estação das Artes, até dia 2 de janeiro de 2026.

Assinaturas MDB