Bragança

“Ou nos mobilizamos ou desaparecemos todos”

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2023-06-22 12:26

“Ou nos mobilizamos, ou desaparecemos.” O apelo, entre a constatação e o desespero, foi deixado no sábado, em Bragança, pelo espanhol José Manuel Martinez, Presidente da Associação León Propõe, que pretende levar ao Parlamento Europeu um Manifesto sobre a situação “do antigo reino de Leão”, território hoje integrado na Espanha, com propostas para ajudarem aquela província “a ultrapassar a crise económica” em que vive.

Mas tratou-se, também, de um apelo aos portugueses, pois surgiu à margem de um Conselho Raiano, uma espécie de seminário promovido pela Associação cívica Rionor (com membros portugueses e espanhóis) e que pretendeu tratar a questão da ferrovia e promover a discussão e a defesa da ligação entre o aeroporto do Porto e Zamora, através dos distritos de Vila Real e Bragança.

“Um erro histórico”, disse Jorge Nunes

Entre os convidados, o antigo presidente da Câmara de Bragança, Jorge Nunes, sublinhou que a retirada do comboio de Bragança, no final do século XX, foi “um erro”.
“Foi um erro, foi uma falta de perspetiva política e envolveu negociações em que a região esteve numa posição menorizada. Não houve uma perspetiva em que podia estar presente e estava estudada, que era ter havido um investimento mais significativo construindo uma linha nova.

Os autarcas e toda a região, na altura, poderiam – é fácil falar a esta distância – e tinham o direito de exigir a construção de uma rede rodoviária e, em simultâneo, exigir a modernização da ferrovia”, disse.

O antigo autarca sublinhou que são várias as razões que sustentam a justiça deste corredor.

“É uma questão de desenvolvimento, de coesão e de competitividade para a região norte no seu conjunto.

A região de Trás-os-Montes está penalizada pelo facto de estar excluída da atual rede ferroviária e com alguma hesitação daquilo que será o futuro da ferrovia em Trás-os-Montes. Por sua vez, já foi penalizada quando no início da ferrovia em Portugal. Não acho que seja só uma questão de Trás-os-Montes, é uma questão de todo o país, que precisa de uma região norte mais competitiva, mais desenvolvida. Precisa de apostar de forma adequada e persistente na descarbonização da economia e, para esse efeito, a ferrovia é o caminho certo”, defendeu.

Sobrinho Teixeira acredita

Já o deputado João Sobrinho Teixeira, que também participou na sessão, depois de já ter promovido uma outra sobre o mesmo tema, há uns meses, em Bragança, diz acreditar neste projeto.

“Acredito, vamos ver se isso se concretiza ou não. A função de quem representa as pessoas da região é de lutar e lutar até final por aquilo em que se acredita.
Continuaremos a lutar e a pugnar por um conjunto de ações que mostrem a virtualidade desta linha, quer a nível de todo o norte, quer no que vai representar para Trás-os-Montes.

Já trouxemos aqui o Secretário de Estado das Infraestruturas, que ouviu muitas das intervenções que foram feitas, o que foi positivo. No primeiro esquiço do plano estava prevista uma linha regional até Bragança mas foi já assumido publicamente, numa resposta à AR, que o Governo acha que essa linha deve ir até Zamora.
Achamos que é importante ter aqui o apoio de Espanha. Esta linha tem a virtualidade de representar um esforço muito menor de ligação a Espanha do que qualquer outra que possam estar a ser equacionadas.

Fizemos uma ação em Castilha e León, com deputados, e foi manifestado um apoio inequívoco na construção desta linha, que pode transformar Zamora no grande centro de ligação ferroviária espanhol.

 Achamos que a área metropolitana do Porto teria muito a lucrar com esta linha. Gostaríamos de fazer uma ação em que incluíssemos os autarcas da área metropolitana do Porto e, claro, de Bragança, de Vila Real, de Zamora, para que o país perceba que esta não é apenas uma via que vai fazer justiça a Trás-os-Montes, colocar-nos na linha da frente da competitividade futura mas é, também, importantíssima para a competitividade do norte de Portugal e da principal área exportadora, que se situa entre Braga e o Porto.

Só perde quem para de lutar, estaremos na luta. O meu objetivo é que no próximo plano ferroviário, esta linha apareça com uma cor e com uma espessura de uma linha de alta velocidade”, frisou.

O problema é aquele que se vê pelos olhos espanhóis. Falta mobilização da sociedade civil para exigir que este projeto avance.

“Acho que será complicado. Não há um projeto concreto. Os estudos são muito lentos. Parece que é só para mostrar que se vai fazer alguma coisa quando não se quer fazer nada. Quando se quer, de facto, fazer alguma coisa, um estudo faz-se em quatro meses.

Faz falta que a Sociedade Civil se mobilize muito mais. É a segunda vez que venho a um encontro destes a Bragança, já estive em Zamora e León e há sempre pouca gente. Se nós, cidadãos, não nos mobilizarmos, os políticos vão aonde estão mais votos. E parece-me que isto não motiva votos em Bragança, porque há pouca gente.
Por um lado, estamos muito acomodados e a sociedade está muito adormecida. E, por outro lado, não sei se temos capacidade de mobilização suficiente para que as pessoas nos oiçam.

Ou através de podcast, ou grupos de whatsapp, das formas como as pessoas hoje se mobilizam. As pessoas já não leem. Temos um documento de 18 páginas, fizemos um resumo de duas.

Se não nos mobilizarmos, esta região morre”, sublinhou.

Fica a dica.

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