A opinião de ...

10. 25 de Abril de 1974. Capitão Salgueiro Maia 1944-1992

Ícone de «Abril» e protagonista aclamado do golpe de 25 de abril, foi o operacional que ocupou o Terreiro do Paço com as forças de «Santarém» e subiu ao Carmo para impor a rendição de Marcello Caetano.
Entrou para Academia Militar em 1964, onde frequentou o curso de Cavalaria. Colocado na respetiva Escola Prática (EPC), em Santarém, embarcou para Moçambique/Cabo Delgado, onde comandou a 9.ª Companhia de Comandos, vincando a arte de bem comandar. Regressa à metrópole em finais de 1968 e, em julho de 1971, é mobilizado de Santa Margarida para a Guiné, como comandante de um esquadrão, onde sentiu o desencanto com a questão ultramarina. Em finais de 1973 é colocado na EPC, envolvendo-se nas conspirações do MFA. Rejeita participar no golpe 16 de março de 1974, “feito em cima do joelho”, mas no mês seguinte aceita envolver-se na intentona contra o regime organizada pelo Major Otelo Saraiva de Carvalho, que lhe confia a decisiva missão de ocupação do Terreiro do Paço. A EPC era uma das unidades melhor apetrechadas e Salgueiro Maia ia meter-se no «olho do furacão.
Na madrugada de 25 de abril, reuniu dois esquadrões de reconhecimento e atiradores com mais de 200 praças, viaturas blindadas e de transporte de tropas e, cerca das 03:20h, arrancou para Lisboa. Na baixa da capital ocupou o Terreiro do Paço (objetivo «Toledo»), onde manietou forças da PSP, GNR, Polícia Militar e de Cavalaria da Ajuda. Chegou a ter as suas forças sob a mira da fragata Gago Coutinho, fundeada no Tejo que, no entanto, não ousou abrir fogo. Ao início da manhã, foi confrontado com duas colunas de carros de combate, comandadas pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis e o Coronel Romeira Júnior, 2.º Cmdt da Região Militar de Lisboa e do Regimento de Cavalaria 7, respectivamente. A situação só não redundou em confronto armado porque o capitão manteve a calma, decidido a parlamentar, e os comandados do Brigadeiro desobedeceram à ordem de abrir fogo. Foi o momento decisivo.
Salgueiro Maia recebeu, então, ordens do PC/Pontinha para se dirigir para o largo do Carmo, de forma a coagir o Comando Geral/GNR a não resistir e a entregar o Presidente do Conselho, que aí se tinha refugiado. De megafone na mão, intimou à rendição, ordenou rajadas contra a fachada do edifício e chegou a contactar pessoalmente com Marcello Caetano, dentro das instalações do quartel, de quem ouviu “já sei que não governo”. À noite, deslocou-se para a Ajuda, determinado a obter a rendição definitiva de Cavalaria 7 e Lanceiros 2, o que consegue na manhã do dia seguinte. Dia dedicado a consolidar a revolta em Lisboa.
De regresso a Santarém, não aceita promoções repentistas (recusou ser coronel Cmdt da EPC), cargos políticos (governador civil de Santarém) ou ser membro do Conselho da Revolução. Não se envolve no processo anárquico pós 25 Abril porque, como disse, “o correcto era o regresso dos operacionais do 25 de Abril aos quartéis, era por aí que passava o reforço da revolução”. Está desencantado e será proscrito pelos pares. Em novembro de 1975, o Exército está cindido e à beira do confronto e, neste contexto, Salgueiro Maia manifesta obediência ao Presidente Costa Gomes, seguindo para Lisboa com uma coluna militar para travar as pretensões da extrema-esquerda no RALIS. Mas só chega a 26 de novembro, não tendo interferência direta no desenlace vitorioso do Grupo de Ramalho Eanes, Melo Antunes e Vasco Lourenço, entre outros. “Acusado” pela esquerda de ferir os princípios de «Abril» e “censurado” pelos «Moderados» de demora na adesão ao contragolpe de «25 de Novembro», é colocado nos Açores, a 10 de março de 1976. Três anos depois, como major é colocado no comando do Presídio Militar de Santarém. Despeitado, ocupa o tempo livre em estudos universitários e dedica-se à Liga dos Amigos dos Castelos e à museologia. Só a 28 de julho de 1984 é, finalmente, colocado na EPC, onde organiza o museu da unidade.
Em finais de 1989, declara-se a doença que o vitimaria a 4 de abril de 1992; o «gajo ganhou», como ele se referiu ao cancro. Foi sepultado em campa rasa na sua terra Natal, em Castelo de Vide. Era tenente-coronel desde 1988. Salgueiro Maia representa a generosidade e a reta intenção das ações militares que se esvaíram com o crepúsculo revolucionário do dia, onde já não alinhou por falta de apetite na hora da ganância, como dele disse Sofia.

Edição
3989

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