A opinião de ...

Milhões

Durante trinta e nove anos tive o privilégio de pertencer aos quadros da Fundação Gulbenkian. Procurei e procuro a todo tempo ser digno desse privilégio mesmo que à custa de amargos de boca como já aconteceu. À minha frente se alguém beliscar a nobre Instituição terá reacção a condizer com a picada. Dada a sua importantes acção nas várias áreas do saber e o facto de possuir um Museu recheado de preciosidades não admira que os poderosos do Mundo quando vêm a Lisboa façam questão em visitar a Sede e contemplar obras marcantes de diversas civilizações. Este facto e também o poderio financeiro da Fundação levou a habituar-me a ver multimilionários e a ouvir falar em milhões. Muitos milhões. O filantropo Senhor Gulbenkian construiu a fortuna porque aliada à inteligência juntou audácia, fulgurante estratégia, segredo, muito segredo e parcimónia. Na sede trabalharam pessoas que tinham privado com ele e destacavam o seu horror à publicidade e o rigoroso controlo que tinha sobre tudo quando girava à sua volta. Uma dessas pessoas foi seu criado de quarto, de vez em quando contava episódios a comprovarem o modo como controlava as despesas e fugia do alcance dos holofotes. Nos últimos anos temos visto gente da alta finança preencherem noticiários e páginas de jornais pelos piores motivos, cavalheiros da indústria do dinheiro cometerem actos que nem os arrieiros e almocreves de outrora eram capazes de praticarem apesar de serem ávidos até à raiz dos cabelos. Há semanas uma senhora ultra rica foi morta no Mónaco, no crime estão implicados o genro e a filha, por cá ainda não chegámos a tal, no entanto, os interessados sabem da ocorrência de perfídias no seio de famílias ligadas à banca, acrescidas das praticadas no BPN, BCP e BPP. Estas pessoas podem comer em baixela de ouro, a consumir beluga todos os dias, a viajar em jactos privados, a viver em palácios, no entanto, cometem barbaridades mais nefandas do que as levadas a cabo pelos bárbaros. Os vândalos (daí o termo vandalismo), ou os hunos operavam às claras, estes tecem a teia de indignidades às escuras a fim de atingirem os seus fins pouco lhe importando o sofrimento e prejuízos que causam a centenas de milhares de aforradores, e aos trabalhadores dos bancos. A Kiki Espírito Santo ia e vai continuar a ir para o luxuoso resort da Comporta brincar aos pobrezinhos, os pobres, nós todos, temos pago o custo das brincadeiras destes argentários sem código de honra, sem moral e sem ética. Até quando?

Edição
3480

Assinaturas MDB