A opinião de ...

Tempos Extraordinários

A torto e a direito, por dá cá aquela palha, ouvimos e lemos, estarmos a viver tempos extraordinários. Em muitas perorações é notório o extraordinário empenho dos faladores tentarem mascarar a realidade através dessas duas bengalas, revelando dificuldades em admitirem serem os extraordinários tempos resultado dos tempos difíceis, cujo retrato sombrio nos foi dado por famoso escritor inglês autor de obras de danação humana, cujo título de uma delas é: Tempos Difíceis. Nesse livro e em muitos outros, temos medonhas descrições da vida na Inglaterra oitocentista, puritana, paradigma das virtudes públicas e vícios privados, cujos expoentes maiores eram a exploração dos pobres e o sofrimento infligido às crianças. Os tempos rolaram, milhares de jovens provocam o pânico nas grandes cidades brasileiras rolando nos grandes centros comerciais, demonstrando que apesar dos enormes avanços da ciência, da técnica, das artes e da cidadania em diversos pontos focais da nossa existência prevalecem as negatividades da sociedade vitoriana. Assim se pode entender a proliferação dos extraordinários cometimentos de sucessores de Calisto Elói, quantas vezes de chocante despudor, levando crentes nas virtudes da democracia a descrerem ao ponto de clamarem pelo regresso de um qualquer Pai tirano capaz de colocar nos eixos os fautores dos desmandos. Alarga-se o fosso entre eleitos e eleitores, o exame das europeias o confirmará, no entanto, nos cenáculos das diversas instâncias do poder político prevalece o interesse dos seus membros, em detrimento da regeneração da vida pública. É verdade, já tivemos um Partido Regenerador, outro Renovador, o partido diferente, que para pesar meu após o soberbo resultado alcançado logo revelou não o ser, caindo nas malhas do tacitismo a levá-lo a apresentar uma moção de censura que lhe foi fatal. Este ano comemoramos quarenta anos de instauração da democracia, a voraz austeridade está a colocar em causa a validade de instituições e projectos (veja-se o caso da ciência e da cultura), no entanto, os deputados gastam tempo a interpretar peças cómicas provocando agrestes comentários de todos quantos as vêem. Por essa razão circulam na Internet milhares de comentários, e piadas zombeteiras a ridicularizarem os representantes do povo. Há dias reenviei uma graça a três deputados, um deles reagiu mal, censurou-me por dar guarida ao vivaz chiste. Provou viver no reino da ilusão. Vai acordar. Estrepitosamente, com azia.

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3458

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