A opinião de ...

Traços e Troços Destroçados

A leitura dos jornais de Bragança propiciam-me alegrias e avivações de afectos, fico-lhe grato por isso, no entanto, também me provocam agravos no desenrolar dos dias porque relatam o constante definhamento humano a plasmar outros deslaçamentos. Estou convicto que de tal sorte de agravos também outros sofrem, ainda mais quando se aproximam eleições a justificarem aos detentores do poder e aspirantes a tal, a maçada de se deslocarem às terras do interior na caça ao voto. Sim, é verdade, em actos festivos de toda a ordem ou natureza, de preferência até ao mês de Junho, nos fins de semana, de mesa enfarpelada e cheia, não faltam as figuras do poder, mas vão-se embora o mais depressa possível logo que os homens silenciosos principiam a falar. É que de mulheres e homens irascíveis é fácil fugir, agora de senhores de conhecimento não raro aliando o estudo ao saber fazer, impolutos e donos de forte dose do sentimento de vergonha, é muito difícil discutir com eles. O tempo actual prejudica os silenciosos, atira-os para o alçapão da obscuridade, prevalecendo o febril volteio da palavra a cromar frases ocas pescadoras do dito cujo voto. A mancha da inércia no referente ao acto de pensar, de reflectir, de sopesar o ouvido de forma a nos resguardarmos do falso brilho do objecto (nem tudo o que reluz é ouro) a conceder-nos possibilidade de firmemente rejeitarmos a gongórica ganga partidária inunda mentes que julgávamos imunes, redundado daí tremendo prejuízo para a terra nordestina. Eu temo – não vale a pena dissimular as palavras – que os males da terra onde nasci se tornem irreparáveis a persistir o abandono, o desenraizamento, a desertificação. Eu, tal como a maioria, fomos obrigados a sair do Lar, a traçar e percorrer troços eivados de espinhos e abrolhos na procura de outros modos de vida capazes de satisfazerem os nossos anseios pontuados por referências de saber a causa das coisas. O largar a casa mãe provocou-nos feridas nos pés e prolongados amargos de boca, no entanto, nunca por nunca nos fez esquecer a causa natural do nascer, tornando vivaz o cimento da solidariedade mesmo quando um ou outro conterrâneo nos morde a mão, como quem diz: nos atraiçoa a confiança nele depositada. Não sei como contrariar a tendência de empobrecimento do Nordeste, tenho vagas intuições, mas sei que é necessário fazer-se alguma coisa. Urgentemente. O litoral além de voraz, vê o Nordeste como coutada ao modo da alta nobreza do antigamente.

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3466

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