A opinião de ...

Não à privatização da água

O ambiente não tem fronteiras. Ou melhor, ultrapassa as fronteiras político-administrativas. Se um país aumentar, em vez de reduzir, as emissões de gases com efeito de estufa e poluir os lençóis freáticos, é evidente que os países vizinhos, ainda que tenham elevados parâmetros de proteção ambiental, são negativamente afetados. Se um agricultor cultivar organismos geneticamente modificados (OGM) ou pulverizar os seus campos com pesticidas, os agricultores vizinhos sofrem as consequências, não podendo, por exemplo, dedicar-se à agricultura biológica. Por isso, é essencial a coordenação das políticas e a cooperação entre países.
Os desafios ambientais são hoje diferentes dos de há 40 anos. Nas décadas de 70 e 80, deuse especial atenção à proteção das espécies e à melhoria da qualidade do ar e da água. Atualmente, a abordagem é mais integrada. Assistese progressivamente a uma mudança de atitude: em vez de se agir para remediar a situação, está-se a agir para prevenir a degradação ambiental.
Nas diversas narrativas da crise, surge frequentemente a referência a uma mudança de paradigma de desenvolvimento. Tornar a economia mais verde reduz os custos ambientais graças a uma utilização mais eficiente dos recursos. Em contrapartida, o desenvolvimento de novas tecnologias e técnicas mais ecológicas cria emprego, estimula a economia e reforça a competitividade da indústria.
A estratégia «Europa 2020» visa a saída da crise e um tipo diferente de crescimento: um crescimento mais inteligente, sustentável e inclusivo. A União Europeia exige que os Estados-membros usem pelo menos 20% dos fundos estruturais e de coesão para se atingirem os objetivos da Estratégia Europa 2020. Por exemplo, para a adaptação às alterações climáticas e à prevenção e gestão de riscos; para aumentar a eficiência energética; para desenvolver transportes sustentáveis e eliminar os estrangulamentos nas principais redes de infraestruturas.
Não há política ambiental bem-sucedida sem o apoio e a participação dos cidadãos. Felizmente, os cidadãos estão hoje mais despertos para a importância do ambiente. Uma sondagem de opinião europeia, realizada em 2011, revelou que mais de 90% dos inquiridos consideram que o ambiente é importante e manifestam-se preocupados com a poluição das águas, o esgotamento dos recursos naturais e o aumento dos resíduos.
Temos de exigir ao governo que aproveite bem os fundos comunitários e impedi-lo de privatizar as Águas de Portugal. Desta vez, o Memorando de Entendimento não pode sequer ser invocado. A água é um recurso demasiado importante para ficar sujeito aos interesses privados ou nas mãos de governos estrangeiros. A soberania nacional também passa por aí.

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