As lições que não aprendemos
O mês de setembro é sinónimo de arranque de um novo ano letivo. O cheiro de novos cadernos e borrachas traz à memória os momentos de ansiedade de início de novos ciclos, que devem ser de aprendizagem, de conhecer novos colegas, fazer novos amigos.
Não por acaso, a escola ocupa uma fatia importante da nossa vida, com 12 anos de escolaridade obrigatória, mais três de pré-escolar, fora os anos de ensino superior e as formações realizadas ao logo da vida. Afinal, não por acaso, diz-se que o saber nunca ocupa lugar e que devemos estar em aprendizagem constante ao longo da nossa vida.
Uma vida em que mais de um quarto do tempo é, em média, passada nos bancos das escolas.
Daí a importância que as lições têm na nossa cultura atual. Ou deviam ter.
É que muitas vezes teimamos em não aprender com aquilo que a vida faz o favor de nos tentar ensinar.
Ao longo dos anos, foram muitas as vezes em que a vida procurou ensinar algo aos responsáveis políticos e a cidadão comum, nomeadamente no que à gestão da floresta e do património natural diz respeito.
Indignamo-nos com as imagens dos incêndios sem fim que consomem a floresta amazónia mas, depois, encolhemos os ombros perante a inação e inoperância do que acontece aqui bem perto de nós, dos nossos próprios comportamentos.
O ano de 2017 deveria ter sido um marco, negro, mas um marco, nesse processo de aprendizagem, tal a dureza da lição que nos foi aplicada, seja ao nível de perda de vidas humanos (66), seja ao nível dos traumas provocados, seja com os estragos que ficaram depois de a fúria do fogo se ter aplacado.
O problema é que, como qualquer professor do primeiro ciclo (primário, vá), se a lição do dia não for sendo consolidada com os trabalhos de casa, com o tempo o ensinamento perde-se.
Passados sete anos, a maior parte dos ensinamentos que aquele verão negro nos deixou, foram-se perdendo com o esboroar da memória.
Bastou um ano em que a seca se prolongou um bocadinho mais para tudo o que o combate aos incêndios tem de mau viesse à baila. Desde a falta de planeamento no inverno à falta de planeamento no verão, à falta de meios no terreno, ao excesso de meios e ao não saber o que lhes fazer, enfim...
Quando chegar o fim de semana e a chuva que se prevê vier trazer alguma acalmia a este caos, vamos ouvir a lenga lenga do costume. Que agora é que vai ser, que agora é que vamos planear, que agora é que vamos ordenar a floresta, que agora é que vamos ter meios, que agora é que vamos ter helicópteros e aviões... Tudo tanga. Tudo treta. Dentro de um ou dois anos, quando a seca se intensificar, vai acontecer tudo igual ou pior. Outra vez. E saber isso é que dói.
P.S.: Já agora, o que terá a Secretaria de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território a dizer?
P.S2.: Será que um antigo responsável autárquico e da CCDR-N, com capacidade de planeamento reconhecida e experiência no terreno como Jorge Nunes não daria um contributo importante no Governo nesta (e noutras) matéria?