A opinião de ...

"Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais do que outros"

A 08 de dezembro, vários órgãos de comunicação social noticiaram um encontro entre o Papa Francisco e um grupo de executivos de grandes empresas no Conselho para um Capitalismo Inclusivo para responder ao desafio do líder da Igreja Católica de criar um sistema económico mais justo.
Mas já poucos dias antes, a 15 de novembro, a propósito do Dia Mundial dos Pobres, Francisco deixava um alerta: "Quantas pessoas passam a vida só a acumular, pensando mais em estar bem do que em fazer bem! Como é vazia, porém, uma vida que se preocupa com as próprias necessidades, sem olhar para quem tem necessidade! Se temos dons, é para ser dons”, dizia o Papa, na homilia de uma celebração na Basílica de S. Pedro.
O Dia Mundial dos Pobres foi vivido "em contextos desafiadores sobretudo porque a pandemia, segundo dados do Banco Mundial, já fez mais de 100 milhões de novos pobres", dizia o Vatican News, na altura.
O Papa procurava chamar a atenção, como noutras vezes, para as injustiças e os desequilíbrios sociais que se verificam, ainda ou cada vez mais, no século XXI.
Enquanto isso, por cá, uma empresa de serviços elétricos e o Estado cozinhavam um negócio que, segundo acusam agora várias forças políticas, depauperou os cofres do país em mais de cem milhões de euros de impostos que não serão arrecadados com a venda de várias barragens localizadas no distrito de Bragança a outra grande empresa internacional (num negócio de mais de dois mil milhões de euros).
Um valor que tem vindo a ser reivindicado pelas popuações do distrito de Bragança como compensação pelo que a empresa sempre tirou e nunca deixou.
Que uma grande empresa olhe só para o seu umbigo e os seus bolsos não é de estranhar. Mas que o Estado, que nos representa a todos, seja conivente com essa situação, é inconcebível, até porque, para além de toda a injustiça de que se veste a situação para as populações residentes, dá corpo à máxima de ser forte com os fracos mas fraco com os fortes.
As barragens são fonte de riqueza da região, que é sugada para outras paragens, sem o mínimo respeito pelas populações que, desde sempre, geriram estes recursos naturais de forma a agora poderem ser fator de riqueza para alguns. Nem sequer a sua fatura da eletricidade reflete, por mínimo que seja, qualquer incentivo ou compensação.
Imagine-se o escândalo que não seria se, em vez de Miranda do Douro ou Torre de Moncorvo, o negócio se referia a algum património nacional instalado em Lisboa...
Este é um reflexo daquilo a que o Papa Francisco se referia.

Como escreveu Georg Orwell, em 1945, no seu livro 'O triunfo dos porcos', todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais do que outros.
Neste caso, todos os portugueses são iguais mas alguns continuam a ser mais iguais do que outros.

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3821

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