A opinião de ...

MAS ÀS CRIANÇAS, SENHORES, PORQUE LHES DAIS TANTAS DORES

Escritos à mais de um século, estes três versos, (adaptados), foram extraídos da “BALADA DA NEVE” um dos melhores, se não mesmo o melhor e mais conhecido dos poemas de Augusto Gil, que muito para além da sua inquestionável qualidade poética, particularmente pela maneira clara e direta como chama a atenção para as dificuldades, para o sofrimento e para a miséria em que viviam as crianças do seu tempo, se tornou num poema intemporal, mantendo, ainda no nosso tempo, uma enorme e dramática atualidade.
Como em todas as épocas e em todas as civilizações, também, e com especial acuidade, na época em que vivemos, em relação às crianças, temos de colocar a mesma inquietadora interpelação: MAS AS CRIANÇAS, SENHORES, PORQUE PADECEM ASSIM?
Por demasiado evidente, a resposta é muito simples e, enquanto tal, não pode ser ignorada por ninguém. Porque, demasiadas vezes são fruto do calculismo e de interesses inconfessáveis de pais sem qualquer preparação para assumirem uma paternidade responsável, pais produto duma sociedade egoísta e sem princípios, que perdeu ou hipotecou os grandes valores de referência, porque dão noites sem dormir, trazem limitações, dão trabalho e dão despesa, as crianças rapidamente se tornam num mal necessário condicionador das liberdades de cada um que, como um fardo pesado que em vez de se amar se suporta, se aproveita a primeira dificuldade ou o mais insignificante pretexto para serem tratadas como descartáveis..
Na primeira linha dos grandes culpados de toda esta lamentável situação, pelo pouco ou nada que fazem para ajudar a resolvê-la, terão de ser colocados os poderes públicos porque, e sem procurar ser demasiadamente exaustivo, será sempre eles que compete:
- Criar para os serviços de neonatologia, pediatria, ginecologia e obstetrícia todas, mas mesmo todas, as condições de instalações, equipamento de ponta e quadros de pessoal técnico da especialidade e de pessoal auxiliar para evitar os escândalos dos partos nas ambulâncias, do fecho das urgências pediátricas e da morte de bebés por acidentes, perfeitamente evitáveis, demasiadamente frequentes nos hospitais e maternidades;
- Facultar aos jovens casais todas as condições para poderem optar por uma paternidade consciente e responsável;
- Proporcionar às grávidas todas as condições para uma gravidez de sucesso;
- Disponibilizar maternidades e creches bem equipadas e com pessoal bem preparado;
- Generalizar o ensino público com qualidade, com boas instalações, servido por pessoal auxiliar suficiente e pessoal docente bem preparado, motivado e justamente remunerado;
- Criar condições suficientes para apoiar todas as crianças com qualquer tipo de deficiência;
Sem estes mínimos, dizer que é preciso incentivar a natalidade, que as crianças são o futuro, que é prioritário investir na cultura, isso, meus senhores, é hipocrisia, charlatanice e mentira.

Edição
3755

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