A opinião de ...

O dedo do meio

Situado entre o versátil indicador e o fiel anular, o dedo médio da mão humana, o mais longo de todos, constituído por três segmentos ósseos denominados falanges, ao assumir variadas posições anatomo-funcionais tem significados curiosos que vale bem a pena ficar a conhecer.
Assim em flexão conjunta com os demais irmãos, o punho serrado é o símbolo de um conhecido partido político, podendo ainda lembrar o temido “blackpower” que nos anos sessenta assustou a América.
Pode também representar um elemento de agressão, não passar de simples ameaça, mas batido com força no tampo duma mesa, é um poderoso dissuasor para concorrentes e adversários.
Já em extensão simultânea com os outros dedos expondo por isso a palma da mão, é sempre um cumprimento ou saudação tão velha quanto a humanidade, sinal de paz também mas que nos recorda momentos históricos de má memória.
Método muito utilizado até há poucos anos para pôr cobro à impertinência das crianças quando aplicada no traseiro, a palma da mão ainda hoje é usado para transmitir confiança, ainda que falsa, quando colocado suavemente nas costas dos nossos amigos.
Todavia, quando usado em plena extensão com os seus irmãos fletidos e agachados na palma da mão, é tido como um insulto universal, séria provocação e enorme obscenidade.
A este propósito ocorre-me uma estrela de futebol europeu pago a peso de ouro, colecionador de trofeus, carros e mulheres, que aparece agora todo penteadinho nas televisões a impingir aos incautos um produto para a caspa, mas que um dia ao abandonar o relvado estendeu o dedo médio da mão direita aos espectadores, o que lhe valeu forte assobiadela da claque adversária e um incontável número de insultos. Curiosamente, no dia seguinte, os órgãos de informação especialmente as televisões e jornais desportivos, não abordaram o infeliz episódio, remetendo-o rapidamente para o esquecimento como era seu presumível prepósito.
Ao invés, foi bem diferente o comportamento dos media e militantes e simpatizantes partidários do Sr. Peer Steinbruck, líder do partido social democrata e candidato a chanceler na República Federal da Alemanha, que por descuido seu ou mau conselho dos assessores que o deixaram fotografar de braços cruzados mas com o dedinho médio discretamente estendido em sinal de óbvio desafio. Neste caso os órgãos de informação e os potenciais apoiantes foram muito críticos, entenderam o caso como mau gosto e obsceno, recusando-se por isso a dar o seu apoio nas eleições que se avizinhavam, do que resultou uma descida imediata nas sondagens entretanto efetuadas.
Afinal de contas, bem vistas as coisas, porque são assim tão diferentes os comportamentos do público? Porque reagem assim as multidões perante a política e o futebol, se os atores ocupam de modo igual os écrans de TV e páginas dos jornais?
Ambos gostam de palmas e visibilidade!
A uns pedimos autógrafos e a outros damos o voto!
Perdoamos os erros a uns e criticamos ferozmente os outros!
Este é um assunto sobre o qual todos devíamos refletir rapidamente, procurando saber como reagir perante estes pequenos deuses terrestres, que passam a infância e adolescência com a bola nos pés e na cabeça e a quem os nossos jovens imitam os gestos, roupa e perfumes. Todos reconhecemos que o futebol é um espaço de diluição de tensões em regra de festa e convívio entre gente de mundos distintos a caminho da tolerância, mas mesmo assim, devemos alertar os nossos jovens para o vazio que está por detrás deste deslumbramento e encaminhá-los para as realidades com que hoje a Europa se defronta em que desigualdades inaceitáveis e o desemprego gigantesco ameaçam o futuro de gerações.
Uma Europa com problemas sociais graves e que a cada dia vai alterando o seu fácies demográfico pela chegada de multidões que do Leste ou do Magrebe, fugindo à guerra e à fome procuram o pão e a liberdade.
Estamos convictos que só a aprendizagem da cidadania e a participação cívica nas questões que são de todos podem ser o caminho rumo à estabilidade social e tolerância entre povos diferentes e sobretudo à paz e bem-estar que é a ambição de todos nós.

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