O primado subalterno
Apelar e reclamar o primado da Lei é quase um lugar comum entre a classe política… sobretudo quando tal lhe convém. “À política o que é da política, à justiça o que é da justiça” reclamam com frequência embora nem sempre se coibam de, criteriosamente usarem uma e outra para se influenciarem se não, mesmo, condicionarem. Porém, em qualquer dos casos, é normal haver um certo recato, muitas vezes manobras na sombra e, não raro, entregar a figuras subalternas a responsabilidade de atuarem em nome de outrem, o interessado. Raramente tais atitudes, atentando ou interferindo na legalidade vigente, são levadas a cabo à vista de todos ou, sequer, ao alcance da maioria. Não foi, contudo, o que aconteceu em Braga!
O Regulamento do Congresso do PSD é claro e não deixa quaisquer dúvidas sobre o acesso ao recinto do plenário. Este espaço está destinado aos delegados, devidamente eleitos nas diversas secções concelhias, sendo que apenas estes têm direito a voto. Outros, sem direito a voto, têm permissão de entrada tais como deputados, nacionais e europeus, membros da Comissão Política e do Conselho Nacional e de mais de uma dezena de outras categorias de militantes e simpatizantes onde se inclui o primeiro eleito para cada uma das Câmaras Municipais (mas não para as Assembleias Municipais, nem mesmo os respetivos presidentes o que mostra bem a desconsideração para com estes cidadãos cuja eleição requer uma validação suplementar pelo órgão a que presidem) e, claro, os convidados da Direção Partidária. Terá sido nesta condição, seguramente, que Luís Marques Mendes, um histórico e ilustre militante social-democrata, terá assegurado e validado a sua presença no Forum Braga. E Pedro Santana Lopes?
Santana não era portador de qualquer convite. Ele próprio o confirmou à chegada. Tanto assim que a sua deslocação a terras minhotas não tinha como destino o interior do pavilhão onde decorriam os trabalhos, mas tão só, segundo as suas próprias palavras, dar uma volta, ver o ambiente e matar saudades. E não (Nãooooooo), não tinha nada a ver com o tempo pré-eleitoral para a Presidência da República. Imagine-se se tivesse… Porém, apesar do seu passado recente de deserção das hostes laranja para as combater, na liderança de um partido concorrente às legislativas bem como à frente de um movimento que afastou o partido (que o levou à liderança do governo, de má memória) da reconquista da Câmara Municipal da Figueira da Foz, não só viu abertas as portas (às quais nem se atreveu a bater – nem precisou) como teve a sua entrada anunciada pelo inefável Presidente da Mesa do Congresso, acompanhado pelo Secretário Geral e sublinhada por grande ovação dos participantes e observadores… ao contrário do seu proto-opositor, Luís Marques Mendes, menos considerado, menos evidenciado, menos aplaudido.
Será que os delegados e o primeiro eleito para a Câmara da Figueira também ovacionaram o atual edil figueirense? Seria estranho que assim fosse, mas…
E se, no seu afã para abrir caminho para Belém Santana quiser o apoio de Montenegro… tê-lo-à? E, mais uma vez, rasgará a disposição recém-adotada de apenas aceitar empenhar o partido numa campanha liderada por um militante? E, nesse caso, Pedro virá, qual Egas Moniz, pedir a readmissão? Antes ou depois da putativa aprovação? E se esta, mesmo assim não acontecer, ou, existindo, a candidatura não vingar? Voltará Pedro para as fileiras da oposição, ferido e magoado com quem, apesar de, inexplicavelmente, o ovacionar, não conseguir colocá-lo na cadeira que há tanto e com tanta ambição quer ocupar?