A opinião de ...

Este barulho insuportável

Vivemos rodeados de constante barulho.
A televisão, a rádio, os aviões, os anúncios publicitários, os cinemas, os automóveis, os trilhos dos comboios, os altifalantes nas manifestações, os pregões nas feiras; e, para além do estrondear dos foguetes, o significativo barulho dos carrocéis nos arraiais; e, também nos arraiais, o barulho dos conjuntos que dão animação aos bailes – todos eles são grandes fontes de poluição sonora que muitas vezes nos deixam perplexos e perturbados!
Contudo, para milhões de pessoas, não são estes os barulhos que incomodam. São aqueles que a televisão nos traz (e nos mostra), vindos de muito longe: os sons aterradores dos obuses, dos mísseis, dos canhões, de toda a metralha que sai das máquinas de guerra, misturados com o pranto dum Povo que, no meio deste ambiente, chora convulsivamente a perda de familiares, a perda de saúde, a perda dos bens que conquistou com uma dura vida de trabalho, e a perda da beleza daquela maravilhosa paisagem que tento a alegrava!
Também se ouve (e vê) na televisão o ruir de prédios de habitação, de hospitais, de escolas, de igrejas, de instituições culturais, de lugares de recreio…
Ouvem-se ainda (e vêm-se) na televisão as causas do estertor dos que morrem à fome, provocadas por engenhos com ruídos de morte que obstruem a passagem de alimentos para quem necessita deles – engenhos que alguém manobra de longe – alguém que não tem pejo de causar sofrimento, agonia, revolta e profunda tristeza! E quando a terra treme e se queixa do barulho infernal das máquinas de destruição, logo o povo ergue as mãos ao céu, e numa infinita dor, vai perguntando: “Porquê”?
Inocentes são mortos indiscriminadamente; gente simples, pacata e humilde, que beija o chão onde nasceu e viveu toda a vida sem fazer mal a ninguém, é morta indiscriminadamente! Gente massacrada, ignorada, e escorraçada por motivos mais que discutíveis que outros inventam para que o horror aconteça!
Gente que passou a viver em subterrâneos, onde pode proteger-se das armas e onde se instalaram hospitais, escolas, creches e espaços onde as crianças podem divertir-se.
Gente que se viu obrigada a deixar tudo e a encontrar refúgio em países que a acolheram, até haver condições para poderem regressar. Esposas e filhos tiveram que se despedir dos maridos e dos pais, que ficaram para cumprir o dever de defender a sua Pátria.
Gente idosa que viu partir muitos dos seus familiares e que teima em ficar, sujeita a uma vida de amargura, a quem tudo falta, precisando de recorrer a expedientes e muitos sacrifícios para sobreviver.
O Povo sofre, os animais sofrem, a Natureza sofre. Quanto sofrimento provocado pela ambição de alguns, ao teimarem querer mais um palmo de terra, mais um lugar estratégico ou mais um grau de poder, à custa de tanta destruição!
Quem acode a este Povo? Quem será capaz de parar esta guerra?

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3887

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