A opinião de ...

A falta de professores

om o objetivo de tentar solucionar ou minimizar a falta de professores da escola pública para que os alunos beneficiem do seu inquestionável direito a todas as aulas constantes dos respetivos programas, entre algumas medidas propostas pelo Governo, sobressai uma com estas duas componentes: recorrer a professores aposentados; e a horas extraordinárias dos que estão ainda no ativo. Parece fácil; mas, não querendo duvidar desta solução, entendo que será muito difícil pô-la em prática.
É sobejamente manifesto que esta proposta vai contra duas situações, as quais têm sido rejeitadas pelos professores. A primeira, requerendo a disponibilidade dos aposentados, decerto vai manifestar em muitos deles o seu desagrado e, muito provavelmente, a sua rejeição. (Tenham-se em conta os milhares de docentes que, segundo é notório na Comunicação Social, anseiam pela aposentação, propiciada pelas más condições de trabalho, tal como por outros motivos, como a falta de respeito pela profissão manifestada por grande parte da sociedade em que estão inseridos, que nem sempre reconhece os sacrifícios e as acima referidas condições de trabalho que os professores enfrentam na escola).
Só quem parece desconhecer os sacrifícios dos professores para acorrer a todas as exigências que têm de assegurar nas turmas que, por lei, lhes são atribuídas em horário completo, é que lhes fará a proposta de lecionar em horas extraordinárias. Naturalmente que, ao verem-se obrigados a cumprir para que nada falte, a tempo e horas, nas suas turmas, mais e mais se verão pressionados no seu já extenso número de horas de trabalho para que caibam nele as que poderão ser exigidas naquela proposta de acumulação.
Não será demais afirmar que, para cumprirem a sua missão, os professores têm de recorrer aos fins de semana e aos feriados, muitas vezes prolongando o seu trabalho pela noite fora, em horas que lhes são devidas para o merecido descanso. É que, quando falamos de horários dos professores, teremos de nos lembrar do serviço letivo e do não letivo. Há horários fixos para o trabalho letivo; mas não há horário para o trabalho não letivo. E mesmo que houvesse, precisava o professor de encontrar na escola um lugar adequado para poder executar com eficiência este trabalho: preparação das aulas, correção de trabalhos, elaboração e concretização de projetos individuais, atendimento dos pais e encarregados de educação…
A tudo isto vem juntar-se o problema da indisciplina que, muitas vezes, torna impossível conduzir as aulas num clima adequado, não só necessário a quem quer ensinar e educar como a quem quer estar atento e aprender. Paralelamente a todo este processo, vem a incompreensão de alguns pais e encarregados de educação que, lamentavelmente, consideram mais apropriado interpelar e até agredir o professor do seu educando, sem calmamente tomarem conhecimento prévio da situação que levou a que este tivesse de ser admoestado.
Perante tudo o que acima disse, quais os incentivos que poderão levar a que um professor encare de ânimo leve a sua profissão? Que recompensa adivinha no horizonte todo o reformado que queira voltar ao ensino? Qual o professor que, no ativo, além do seu horário normal, aceita lecionar também em horas extraordinárias?
E, por último, qual o vencimento que poderá compensar o profissional sujeito a estas condições?

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