A opinião de ...

A Família

Quem teve a oportunidade de acompanhar as transformações que aconteceram neste país, desde meados do século XX até hoje, poderá pensar, com natural constatação e compreensível admiração, que teve a oportunidade de viver em dois mundos antagónicos: o mundo da família estruturada e o mundo da família desestruturada, bem como o mundo do interior e o mundo dos subúrbios das grandes cidades, nomeadamente do litoral.
Falando da família, se bem que, em muitas zonas do país, ainda possamos encontrar agregados familiares, onde a coesão se rege por valores humanos (amor, respeito, educação, lealdade, sentido de justiça, honestidade, sinceridade, solidariedade, resiliência, responsabilidade, tolerância…), noutras, não existe já o elo que aqueles valores criavam, para dar lugar a outro, fundamentado em valores originados, essencialmente, numa tão apregoada liberdade que a ela pode ser imputado tudo quanto de alegadamente errado se implantou e vem crescendo.
É por isso que se torna necessário compreender a liberdade. É verdade que, após o 25 de abril de 1974, se falou muito nela. Mas, apesar de exaustivamente explicado, muitos não interiorizaram ainda este conceito.
É por isso que, para eles, ser-se livre é fazer o que se quer. Porém, quem assim pensa está bem longe de saber o que é ser-se livre! É neste contexto, que aparecem valores contraditórios dos acima registados, como, por exemplo: falta de amor e de amizade; falta de respeito e falta de educação, de disciplina, de solidariedade, de responsabilidade, falta de perseverança e de sinceridade, de humildade e de sentido de justiça, de integridade e de lealdade…
Vejamos, então, o caos que se instalou na família, não só pelos divórcios e pela disputa dos filhos de menor idade (divergências principais, por vezes intoleráveis), como ainda pela divisão dos bens materiais! Nestas circunstâncias, qual o papel do amor, do respeito, da sinceridade, da tolerância, da responsabilidade, da paciência e do sentido de justiça?
Todos estes comportamentos geram instabilidade, descrença e desilusão; originam profundas marcas de ansiedade e de incerteza, sobretudo nos filhos que, não compreendendo o que se passa à sua volta, irão sentir-se amargurados, não só pela quebra dos laços criados no ambiente familiar, como também pelo que os espera no futuro!
Sendo a família a primeira responsável pela educação dos filhos, a ela cabe transmitir-lhes valores e normas que irão orientá-los na vida. Compete à comunidade e à escola o desenvolvimento e o aperfeiçoamento do que a família começou. Bem integrados na sociedade, nela vão pôr em prática o que aprenderam neste primeiro percurso de vida.
Mas, sobejamente conhecido, só excecionalmente os traumas criados no caos familiar não deixarão de ser grandes responsáveis pela orientação de quem os sofreu, e condicionar as várias etapas da sua vida, pela influência no moldar o caráter, nas hesitações, em más decisões, nos medos e na insegurança!

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3878

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