A opinião de ...

O ferrete cíclico dos incêndios II

Em agosto de 2015, publiquei neste Jornal um apontamento sobre o tema dos incêndios, no qual me referi à impensável frequência com que vinham a acontecer, tal como às suas graves consequências.
Nessa altura, não tinha havido o massacre de 2017 e já nos queixávamos de tantos e tão maléficos momentos!
Em 2017, não opinei sobre eles e não me lembro de ter feito qualquer artigo sobre algum que tenha acontecido em anos seguintes.
Como é sobejamente conhecido de todos, naquele ano fatídico, o drama foi tão grande que daí resultaram não só uma enorme perda de vidas humanas, mas também múltiplas doenças, além de incalculáveis prejuízos materiais, que me remeti ao silêncio e deixei falar quem tinha a responsabilidade e a obrigação de o fazer, sendo que qualquer opinião que pudesse dar a conhecer, (no meio de tanta discussão e informação), a guardei comigo para meditar no que, a qualquer momento, pode resultar duma revolta da natureza! A mesma natureza de que nos fala António Gedeão, “e as forças da Natureza/nunca ninguém as venceu”.
Referindo-me ao presente ano de 2022, não posso deixar de retomar aquele tema, a frequência com que tais fenómenos aconteceram e a destruição de património, tanto particular como coletivo. Como se verificou, foram sobretudo o norte e o centro do país que sofreram os incêndios mais destruidores, nos quais, com a perda de uma vítima mortal humana, houve feridos física e emocionalmente, e perderam-se casas, animais domésticos e selvagens, culturas, alfaias agrícolas, viaturas, infraestruturas, floresta, parques naturais, espécies vegetais raras …
Lamentando tudo o que aconteceu no país sobre esta desgraça, não posso deixar de trazer aqui o caso da Serra da Estrela. Na verdade, tanto pela extensão da área ardida, como pelo tempo em que o fogo reagiu e resistiu às inúmeras tentativas de extingui-lo, foram destruídas casas, uma imensa extensão de pastagens e de floresta, além do maior parque natural nacional, e assim, afetadas várias indústrias, tal como o muito procurado turismo que a mesma proporcionava.
Tal como aconteceu em 2017, também neste e em casos recentes, se verificou a imparável frequência de focos de incêndio que, pelo calor inclemente que se fez sentir e pela total ausência de chuva, o vento fez com que cada um deles se tenha transformado num terrível fogareiro. E também, tal como em casos anteriores, se duvidou de que não tenha havido mão humana a contribuir para que tudo isto acontecesse.
Entretanto, muitos atribuíram estes acontecimentos à falta de prevenção e de preparação para que fossem evitados, pois que os ouvimos afirmar que os responsáveis nada aprenderam com o que se passou em anos anteriores. Ora, fazer uma afirmação destas é esquecer tudo quanto aconteceu, por exemplo, em relação ao número de vítimas mortais e às transmissões, como também à reação e ao comportamento das populações atingidas, enquanto se manteve a coordenação, a persistência, a coragem e a resistência dos bombeiros.
Como todos estes fenómenos aconteceram nos primeiros meses da chamada época dos incêndios, encontramo-nos na incerteza do que irá passar-se até ao fim da referida época.
E que dizer dos alegados criminosos incendiários? Qual irá ser a respetiva sentença? Terá efeitos dissuasores?
Há também melhoramento dos planos para minimizar tanta destruição? Penso que sim.
Seria bom que nenhum de nós sentisse o impulso interior para abordar novamente este tão desagradável tema.

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3901

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