A opinião de ...

Bragança e as Coisas com Categoria: delicadeza, a flor da caridade

Bragança. Um grupo de rapazes e raparigas entrou no café. Não o fez de qualquer maneira: eles deixaram-nas passar à frente. Poderia ter sido uma coincidência mas o que é certo é que cumpriram uma das regras de cortesia de dar a primazia às senhoras. Reparando nos comportamentos, algo que quase nos passa ao lado no dia a dia, habituados como estamos a que, nesta época, tudo esteja muito esquecido e confuso (estará?!), podemos surpreender-nos, sobretudo se estivermos em Bragança.
Homens a deixar que as senhoras primeiro se sentem às mesas, alguns a segurar-lhes e ajeitar-lhes as cadeiras, quase todos a levantarem-se para cumprimentar circunstantes que chegam entretanto, sempre eles a ir buscar uma cadeira mais.
Observar as formas de comer bolos e beber café, as atitudes à mesa de restaurantes, dos grupos e casais em passeios, às conversas e maneiras de atender clientes.
De surpresa em surpresa, boa surpresa em boa surpresa, apesar das excepções, podemos notar: em Bragança as pessoas são, em média, mais “bem educadas”, mais atenciosas do que noutras cidades. Não é só pela primazia cavalheiresca dada às raparigas e senhoras, em dar-lhes o lugar quando estão de pé numa missa, numa conferência, num comício! É mais do que isso.
O uso do guardanapo nos restaurantes, limpando a boca antes do copo de vinho, água ou cerveja; o esperar que todos estejam servidos para começar a comer; o não falar com a boca cheia; o mastigar de boca fechada; saber comer de garfo e faca; o não levar a faca à boca; a forma de pegar nos talheres e o não gesticular nem apontar com eles; o pousá-los no prato enquanto se conversa; o não soprar na colher de sopa quente ou na garfada do bacalhau com natas; o acompanhar o ritmo da refeição e não fazer os outros esperar; o não pôr os cotovelos em cima da mesa.
Muito interessante que tudo isto pareça espontâneo e natural, muito mais frequente de acontecer em Bragança do que noutras cidades. A aprendizagem que foi feita em casa, em família, destes comportamentos correctos, estará relacionada com o passado conventual, militar e fidalgo, os colégios e seminários, em que uma maioria significativa da população da cidade esteve relacionada ou prestava serviços. Daí a herança e cultura de tantas e tão boas maneiras.
Até certo ponto, achamos tão natural que nem reparamos. Mas é um dado importante para a nossa autoestima: apesar de tendermos a falar em voz alta, de termos alguns exageros na nossa pronúncia pouco limada de português, o certo é que tendemos para nos “portarmos bem”, para sermos “bem educados”, para sermos corteses para com os outros no dia a dia.
Esta atenção para com os outros, porque a adopção das regras de cortesia revela consideração e estima para com quem está connosco, esta delicadeza das boas-maneiras, a ser, como parece, uma característica notável nas pessoas na cidade de Bragança, é algo com muita categoria. A cultivar. Que nunca é demais. Com muito para meditar, já que a delicadeza é a flor da caridade.

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