A opinião de ...

O Butelo e as Casulas!...

"Quando a ousadia é merecida e se procuram milagres perfeitos, é a hora de desfraldar a bandeira da vitória, ferrar o galho em sonhos de princesas encantadas, desenferrujar e afiar os gumes dentários, excomungar dietas e reclamar: Cascas com Butelo!!!" In "Crónicas Comestíveis", António Monteiro, pp. 103
Uns chamam-lhe Butelo, outros, chouriço de ossos, outros…enfim, são vários os nomes para produtos semelhantes do fumeiro regional da Terra Fria Transmontana. Digo regional, porquanto há casos em que se vende “gato por lebre”, surgindo no mercado, enchidos que, de Butelos, só têm o nome, porquanto são perfeitamente industrializados, não havendo, por parte de quem os produz, o mínimo respeito pelos condimentos genuínos que celebrizaram este tipo de enchido ao longo dos tempos, sobretudo no meio rural, o mais natural.
Se é certo que os nomes podem variar consoante as suas origens, distribuídas por diversos pontos transfronteiriços da Terra Fria Nordestina/Transmontana e até da vizinha Espanha, também a confeção e as carnes utilizadas apresentam algumas diferenças. Mas uns ossitos com a respetiva carne, no Butelo, é que não podem faltar! O que seria estar a comer um Butelo sem encontrar uns ossos, revestidos de carne, oriundos das partes do porco indicadas para o efeito?!...
Importante e inegável é que se trata de um produto gastronómico regional, muito apreciado, que distingue o fumeiro tradicional da terra fria nordestina de todos os outros.
Não admira, por isso, que, sendo um “chouriço” que se identifica com facilidade, sobretudo pelo aspecto exterior e pelo singular sabor, esteja sempre presente, não só em diversos cartazes de Feiras de Fumeiro, ou afins, como também nas bancas dos expositores/vendedores.
Principalmente nos dias frios de inverno, serão poucos os transmontanos/nordestinos que, ao calor da lareira, não apreciem um bom Butelo, juntamente com umas chouriças (de preferência de cozer – “bucheiras”), uns pés de porco, ou umas “orelheiras”, acompanhados com boas Casulas (de preferência sem “veia”), para uns, e cascas, para outros, algumas batatas e, para quem goste, uma ou duas cebolas. Tudo devidamente cozido, naturalmente!
Se os produtos forem de qualidade e confecionados de acordo com a genuína tradição secular, de preferência no pote, ao lume, teremos, por certo, uma iguaria de fazer crescer a água na boca.
Porém, é importante nunca esquecer que uma refeição deste género requer uma confecção afectiva, dedicada e com tempo suficiente para que todos os ingredientes surjam na mesa sem perderem as qualidades e os sabores específicos.
Embora pareça simples, e de facto é, cozer umas Casulas, ou um Butelo, exige um “carinho” especial, tempo, disponibilidade e entrega. Diria, até, arte culinária!...
Para complemento, uma refeição de Butelo com Casulas, não dispensa um bom néctar dos Deuses oriundo das nossas cepas, bem como azeite de qualidade e um bom pão, sendo certo que tudo isto existe de bom existe na nossa região.
Com a divulgação da gastronomia local todos ficam a ganhar. Os agricultores, os restaurantes, os consumidores, a actividade turística nordestina, contribuindo para a dinamização da atividade económica regional.
Como estamos no tempo frio e, consequentemente, época do fumeiro, desejo um bom proveito à mesa, com uma refeição de Butelo e…Casulas, obviamente!

Grão-mestre da Confraria do Butelo e da Casula - CBC

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