Circuito Turístico de Bragança repensar e requalificar globalmente todo o percurso
Em 1872 dizia-se de um troço da atual Estrada de Turismo [N 217-1]: “Bragança não tem em seus arredores local mais aprazível, nem recreativo” e, “seria muito útil até para louvar que a camara municipal, um dia, se lembrasse de mandar limpar-lhe as pedras, desviar-lhe as águas, que o arruínam, fazendo assim transitável um dos principais caminhos das avenidas da cidade”, que a ligam a Cabeça-Boa.
A 9 de agosto de1942 o presidente da Câmara Manuel António Pires delimitará este trajeto, tal como hoje o conhecemos e, deixará escrito em ata: “a estrada de Turismo de Cabeça-Boa é notável pelos vastíssimos horizontes que proporciona e, pelo lindíssimo panorama da cidade de Bragança, vista de um plano superior, está destinada a tornar-se, dentro em pouco, um dos passeios mais preferidos, dos seus habitantes, abrindo-lhes, além disso, largas perspetivas de poder ser aproveitada, num futuro próximo, como local apropriado, para certames automobilísticos etc”. Começa a rasgar-se o trajeto a 20 de agosto de1948 e inaugurar-se-á a 15 de fevereiro de 1949, com o custo final à data, de Esc. 400.000$00”. Até 6 de setembro de 2001 a conservação desta via esteve ao cuidado da Junta Autónoma de Estradas [JAE], atual Infraestruturas de Portugal S.A. [IP. SA.], que nessa data entrega a jurisdição à Câmara Municipal de Bragança.
Na N 217-1 decorreram provas de perícia automóvel, de motos, de bicicletas, amadoras e profissionais, ainda hoje o tour da Volta a Portugal em Bicicleta faz a sua entrada, e saída, da cidade, pelo circuito turístico, embora se presuma que o troço nunca tenha sido homologado para estes fins. Em 1966, realizou-se a prova complementar de perícia, da internacional volta a Portugal do Club 100 à Hora, neste evento sagrou-se vencedor José Lampreia, finalizando a volta com 3m 355. Quem não se recorda, nos anos setenta, das festas do monte S. Bartolomeu a rivalizar com as da cidade?
O circuito foi pensado de forma global, para ser um polo de atração turística. Fez-se o arranjo da Capela de S. Bartolomeu, a arborização, os caminhos para carros e peões, o mirante, a casa da mordomia [1947], o coreto do concurso pecuário [1948], a estrada [1948/49], o escadório [1949], a Pousada, projeto do arquiteto José Carlos Loureiro [1960?]. Apesar do modesto plano de obras, por causa da II Guerra Mundial, a edilidade e os brigantinos não deixaram por concluir o emblemático circuito turístico, apenas pelos “justos fins que se tinham em vista”.
O apreço dos brigantinos pelo circuito turístico mantêm-se altíssimo, seja pelo grande número de pessoas que o percorrem diariamente, seja pelos que usufruem da sua magnífica paisagem nos miradouros, mas sobretudo pelos que, apesar de tudo, nele verdadeiramente acreditam e teimam em mantê-lo cuidado e, pelos que nas redes sociais na internet, clamam desabridamente por melhores dias.
Urge repensar o circuito turístico no seu todo, como se fez no séc. passado, não apenas a estrada, ou as escadas, para devolver à cidade e ao turismo um dos seus mais atrativos ex-líbris devidamente requalificado.