A opinião de ...

Escutismo e boas práticas contabilísticas

As empresas, públicas ou privadas, as associações, prestam contas para estar a par das exigências jurídicas, contabilísticas, fiscais, para crescer de forma sustentada, rigorosa e, transparente, mesmo as Entidades do Setor não Lucrativo [ESNL]. O Corpo Nacional de Escutas [C.N.E.], associação destinada à educação integral dos jovens, “reconhecida pelo estado como de Utilidade Pública”, com a revogação do Plano Oficial de Contas [POC], ficou abrangido pelo regime aplicável às ESNL, que canalizam as receitas obtidas no decurso da sua atividade em benefício dos bens e serviços fornecidos, ou os reinvestem na estrutura da organização, não as distribuem pelos seus membros.
Desde 2007, o C.N.E. tem implementado o Sistema Integrado de Informação Escutista (SIIE), uma aplicação informática que gere os dados dos associados, o censo anual, contas dos Agrupamentos, entre outros, a partir de qualquer ponto do país.
Um dos últimos Congressos Nacionais do C.N.E. recorda a obrigação de prestação de contas não apenas ao estado, mas a um público estratégico mais vasto: aos pais, aos escuteiros, aos antigos escuteiros, à Igreja católica, às agências governamentais, às autarquias, aos parceiros, aos patrocinadores, aos beneméritos, aos fornecedores, aos funcionários, aos dirigentes de unidade, aos dirigentes executivos, aos representantes, à organização mundial do escutismo e, congénere. Mesmo considerando a sua autonomia, o voluntariado das suas estruturas e, as debilidades a que o movimento está sujeito, não se dispensa a prestação de contas. Em nome da agilização do processo contudo segue um modelo centralizado, tanto quanto a consolidação por patamares [agrupamentos, núcleos, centros escutistas, juntas regionais, junta central], o permitem. Como se pode calcular não é fácil gerir 71 mil associados, distribuídos por 1019 Agrupamentos locais, 12 centros escutistas, entre outros, numa dispersão geográfica por 20 Regiões/ Dioceses, do Continente e Ilhas.
Entendo que, o CNE como movimento da Igreja Católica, cuja fé e doutrina assume, aberto a todos, deverá esforçar-se por atingir os associados de maior carência económica, pois “uma sociedade só pode ser considerada verdadeiramente civilizada na medida em que se preocupa com os seus membros mais desfavorecidos". Ao implementar boas práticas contabilísticas, visa ter colaboradores permanentemente alinhados com o interesse da instituição, conseguir atividades a preços reduzidos, ou gratuitas, para alcançar um maior número, discriminando positivamente os menos favorecidos.
Vejamos, por exemplo, um Orçamento Previsional, peça a ter em conta antes do início de cada novo ano escutista a par da programação, aos olhos de um qualquer “pata tenra”[*] pode parecer desinteressante, havendo mesmo quem o desvalorize e, menospreze, contudo é peça fundamental na boa Gestão Administrativa e Financeira [GAF]. As contas no escutismo já não podem arriscar uma qualquer administração de “merceeiro”. Bons orçamentos explicativos indicando quantidades, valores, sinalizando e envolvendo agrupamentos e gestores locais, a quem se possa solicitar assunção de responsabilidades de eventuais desvios, não só se justificam, como se exigem! O GAF prevê e exige uma boa articulação entre a Junta Central, a Região, o Núcleo e, os Agrupamentos, de forma a gerir, mais eficazmente, vejamos:
- Uma boa fixação de números, por exemplo na previsão de vendas, de “calendários”, ajuda a não ficar com material sobrante, bem como a descer o custo unitário no ato da compra, afetando positivamente toda a cadeia [agrupamento, região, junta central].
- A inscrição rigorosa de candidatos na formação ajuda prever gastos e, a otimizar recursos, podendo minimizar custos com material de escritório, alimentação, alojamento, entre outros. Sendo pequeno o número de formandos há sempre possibilidade de estabelecer protocolos de formação conjunta com a região vizinha, reduzindo custos e, poupando formadores. E, tantos outros exemplos que seriam possíveis de enumerar…
Fazendo uma orçamentação previsional bem-feita, não esquecendo o seu caráter de provisoriedade, gera-se maior rigor, processos mais discutidos e transparentes, permitindo um maior envolvimento de todos na concretização dos objetivos do grupo.
Contudo a primeira responsabilidade na implementação das boas práticas contabilísticas é dos dirigentes adultos. E, aqui voltamos a B.P.: “a atitude do Chefe é da maior importância, já que os rapazes moldam os seus caracteres em grande parte a partir do dele”.

Edição
3739

Assinaturas MDB