A opinião de ...

A POESIA MODERNA

É salutar sentir o pulsar da poesia nas coisas mais simples da vida e também nos momentos menos envolventes. Em tudo há poesia, porque o acto de sentir o belo é um acto de profundo amor e uma dádiva do Criador. Pessoas com sensibilidades apuradas (re) descobrem sensações, vibrações “especiais”, inacessíveis ao cidadão comum. Aqueles que têm este dom, este sortilégio, devem agradecer a quem de direito dádiva tão grande que lhes permite momentos de profunda felicidade, e muito particularmente quando fazem os outros felizes. Poesia, prazer, sentimento, são três palavrinhas que se fundem numa só: AMOR, o sentimento mais elevado. As palavras que lhe estão associadas podem produzir verdadeiros êxtases de prazer…
 
Desde os clássicos até aos nossos dias, a expressão poética sofreu inúmeras mutações, tanto no domínio da forma, como no conteúdo. Os clássicos privilegiavam a forma, a rede relacional das palavras dispostas no eixo horizontal (eixo sintagmático, eixo metonímico). É um facto que o aspecto semântico também tinha um enorme peso, mas o apego à denotação (metonímia) era evidente. O que não seria de imponentes obras como a “Ilíada” e a “Odisseia”, se os autores dos poemas tivessem dado primazia à conotação, à metáfora? Em certa medida, eram “prisioneiros” das palavras…
 
A “obediência” a normas, aliás totalmente enquadrada no mundo social de então, não propiciava, de facto, uma grande desenvoltura no domínio da poesia. Uma sociedade muito prática e pragmática… Sem grandes parangonas, convido só o leitor a pensar no verso de 7, 10 e 12 sílabas, na rima “obrigatória” (cruzada, emparelhada, interpolada); no ritmo “impositivo”, na disposição gráfica, na acentuação, e por aí fora…
 
Por outro lado, a poesia moderna destrói a natureza espontaneamente funcional da linguagem e só deixa subsistir os seus alicerces lexicais. “A Palavra” explode por cima de uma linha de relações vazias, a gramática fica desprovida da sua finalidade; já só é uma inflexão que dura para apresentar, exclusivamente, a “Palavra”, expressão bem elucidativa de um conceituado linguista. Ou seja, a poesia moderna parte das palavras (lexemas), que remetem para um quase infinito número de sentidos (semas). As regras gramaticais são para cumprir, mas a poesia moderna como que as “ultrapassa” e “adultera”, precisamente para se debruçar no essencial, na semântica; no fundo o fundamental em poesia. Não é por acaso que a metáfora é a figura de estilo por excelência, dela derivando todas as outras. Pensem por exemplo na palavra Sol e nos inúmeros sentidos (calor, incandescente, esfera, infinito, dia, noite, Astro-rei, estrela, etc.). Também convém dizer que não há sinónimos perfeitos. Consoante o contexto…
 
É pensando em tudo o que gira à volta da PALAVRA que podemos, pelo menos, começar a entender e gostar da POESIA MODERNA
 
N.B. – O autor não usa o novo acordo ortográfico.

Edição
3672

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