Arrojo…
Ciclicamente, entre finais de Agosto e inícios de Setembro, regresso ao êxtase. Entro ali, para os lados de Carviçais de Moncorvo, e rumo aos abismos, às terras do vácuo. As ravinas, arrepiantes, são pertenças de desfiladeiro medonho, de leito caminheiro do maior lutador fluvial que atravessa território nacional. Entra, triunfante, pela garganta de Miranda, saúda Portugal do alto da Meseta Ibérica, derrama-se pelo planalto transmontano e passa fundo, num verde-escuro, ali para os lados de Freixo de Espada á Cinta, nos medonhos domínios dos Montes Ermos. Quem o quer ver tem de se meter a caminho, tem de ousar para o observar nos abismos da frescura, entre pertenças de dois povos, sítios observadores de guerras seculares. É jóia com lapidação Lusa, esconde-se das gentes, navega majestoso sob pseudónimo Internacional e abre-se na conquista vinhateira. Aqui, entre Mazouco e Penedo Durão, sinto na pele as aragens que o Douro me dá, revigoro-me nos observares do céu, do azul, do longe, do silêncio, de conversas do cosmos. Mas, o que aqui me chama, o que me arrasta, é poder observar o voo do grifo, o domínio dos ares, a amizade com os ventos, os picares vertiginosos de quem não teme e arrisca.
Do outro lado e colados a nós, temos dois temerosos, frouxos, sem golpes de asa, potenciais perdedores. O Partido Socialista perdeu ao não assumir, de verdade, a herança Socrática. Esquecer a mais robusta Maioria Absoluta socialista, a mais pujante de todo o leque político, é renegar a maior fatia do bolo rosa. Não ir a jogo defendendo as causas pelas quais Sócrates se bateu é penhorar o combate futuro, é anestesiar os nervos e músculos do direito á indignação.
Nunca é demais lembrar que, debaixo do fogo cerrado de uma direita sem rumo perseguindo de forma vil um Guterres Maior transformando-o num fujão irresponsável, esquecendo um Durão que saiu de arrecuas a caminho do El Doirado, nunca é demais lembrar o agigantar de um líder sem medo, que assumiu por inteiro todo o passado socialista, o bom e o mau e arrancou, em euforia desmedida, a soberba Maioria Absoluta da Esperança.
Sabemos, sem sombras para dúvidas, a origem do ódio visceral instalado na Elite Corporativa. O beliscar dos privilégios, os tais direitos adquiridos conseguidos no Cavaquistão, foi detonador para a maior onda detractora de carácter, de um só homem, desde a madrugada dos cravos.
Temos agora, porque lhes faltou a visão do voo, dois homens prisioneiros de uma má leitura dos tempos pois que deixaram para trás a onda tsunámica de Sócrates, a maioria que se fartou dos maus caminhos da democracia.
Costa e Ferro, feitos da mesma massa, lealdade, honradez e competência, estão capsulados, prisioneiros de uma estratégia sonsa, sem garra. Estão na defesa e sem ataque.
Basta ir á Congida, ir do fundo aos altos agrestes e arrepiantes, vislumbrar os céus, observar a quem pertence o mundo: aos audazes e aos sem medos. De asas longas e pescoço esticado o Grifo aponta o rumo, aos líderes não pode faltar o Arrojo…