A opinião de ...

Sobre a Exortação Evangélica “Evangelli Gaudium” do Papa Francisco

O Papa Francisco fez publicar recentemente a exortação “Evangelli Gaudium”. Leio essa exortação como um alerta muito sério aos dirigentes das nações de todo o mundo, para que travem toda a forma de capitalismo selvagem e, com o pretexto de resolverem a crise, não persistam em castigar de forma desproporcionada e injusta os mais indefesos. É assim que leio a exortação papal.
Se bem repararmos, a crise financeira que deu origem à crise económica, social e política que vivemos tem a ver com falhas, erros e omissões das instituições financeiras que, a determinada altura, deixaram de fazer aquilo para que tinham sido criadas - que era a de fornecer crédito para apoio da economia real - e optaram por canalizar as suas energias para outras atividades, que não a sua função tradicional. A atividade das instituições financeiras ao deslocar-se para a compra e venda do risco, acabou por centrar a sua atuação no objetivo do lucro rápido e fácil, com o efeito perverso de terem descurado a sua função principal.
A nível internacional, de forma generalizada e sem adequada supervisão, o que aconteceu foi um desenvolvimento financeiro com alta alavancagem, através de instrumentos de securitização da dívida e uma elevada sofisticação, nem sempre corretamente percecionada pelas partes envolvidas, o que conduziu a situações complexas e perigosas. Esta crise é assim a consequência direta da ganância das instituições financeiras.
Perante a situação dramática dos sistemas financeiros, os Estados transformaram-se em gigantescas companhias de seguros, que tentaram cobrir os riscos assumidos pelo sistema financeiro. Foi isso que levou à existência de uma clara interdependência entre a crise financeira e a intervenção dos Estados que, de forma direta ou, através dos credores, foram transferindo para os cidadãos, direta ou indiretamente, os custos dos erros e das imprudências cometidas pelos sistemas financeiros. Nesse quadro, os países mais débeis ou que tinham níveis muito elevados de dívida, como foi o caso do nosso País, ressentiram-se de forma mais gravosa.
Falharam não só as instituições financeiras, como também falharam, e de forma estrondosa, as instituições públicas que deveriam supervisionar e fiscalizar a atividade do sistema financeiro. Não foram os mercados que falharam. Quem falhou foi o sistema político que não supervisionou, não fiscalizou, não preveniu, nem puniu. Assim, estamos perante uma crise que é global, mas continuamos a não ter nem soluções globais, nem instituições globais e não as teremos enquanto o poder político estiver capturado pelo poder financeiro. Daí, a oportunidade desta exortação do Papa Francisco.


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