Nordeste Transmontano

Municípios juntam-se para realizar Festival Simbiose

Publicado por GL em Qui, 2022-05-26 11:14

Os Municípios de Vinhais, Macedo de Cavaleiros e Miranda do Douro juntaram-se para realizar em conjunto o Festival Simbiose, uma iniciativa que agrega várias artes e que criará um espetáculo-percurso a apresentar nos palcos dos três concelhos entre 27 de maio e 7 de julho.

Apoiado pelo Programa Norte 2020, o Festival Simbiose é resultado de uma abordagem inovadora, que tem por base a coprodução e itinerância de espetáculos focados em elementos identitários de Trás-os-Montes. “É a primeira candidatura em rede. Vinhais convidou os outros dois municípios para serem parceiros e para organizar o festival e, assim, promover o território, através da cultura e dinamizando as associações locais”, explicou Artur Marques, vereador da Câmara Municipal de Vinhais.

O festival mobiliza dezenas de associações culturais e recreativas dos três concelhos, muitas das quais participam com a realização de recolhas de canções, lendas, danças e outras tradições.

A candidatura permite um financiamento de 75 mil euros por cada município, para montar uma iniciativa que junta teatro, música, património cultural e tradições. “É um festival audaz e ambicioso, que tem tudo para correr bem”, acrescentou Artur Marques.

Para João Medina, coordenador do projeto, só a organização conjunta dos três municípios “já é inovadora” por se estar a criar em rede um novo conceito cultural.

O Município de Vinhais lançou o desafio, que foi aceite. “Desta forma temos também as áreas protegidas, como o Montesinho, Azibo e Douro Internacional, misturamos o património imaterial, com o iconográfico, natural e construído. Quisemos trazer diferentes artes performativas, não apenas um concerto, não apenas música, mas dança, cinema, canto, teatro. É fazer a simbiose entre estes diferentes elementos”, esclareceu João Medina.

A organização envolve a comunidade, através da participação de grupos culturais locais, para explorar uma relação de simbiose entre o rico património transmontano e diferentes quadrantes das artes performativas.

Graça Afonso, uma antiga professora primária, com 80 anos, uma as referências da cultura popular de Agrochão, freguesia do concelho de Vinhais, explicou que tem em sua posse centenas de canções e danças que recolheu ao longo da sua vida, mas muitas ainda não passaram para nenhum suporte e estão apenas na sua memória. Estão, como tal, em risco. “Os meus pais cantavam e aprendi. Enquanto professora fui fazendo recolhas nas aldeias onde lecionei. Só um músico [Paulo Preto] já gravou 150 canções das minhas, mas tenho muitas mais, bem como danças”, explicou Graça Afonso que teme que muito do património imaterial, que está apenas guardado na sua memória, se perca para sempre. “Era bom que alguém registasse aquilo que eu sei. O meu medo é que se perca. Nem os meus filhos sabem” acrescentou.

O Festival Simbiose mobiliza elementos culturais únicos da região (como as máscaras e caretos, os cantares e rituais, os bombos, os gaiteiros, os pauliteiros, entre outros), contribuindo para a preservação deste importante património através da sua transposição para um contexto contemporâneo. “A ideia é trabalhar com a comunidade, para criar coisas inovadoras e dar-lhes roupagem mais contemporânea possível e manter este interesse no renovar das tradições, não as deixar morrer não apenas numa lógica museográfica, tradicional de manutenção. Nós queremos dar-lhe novas roupagens, novas abordagens contemporâneas e fazer com que renasçam estas tradições”, concretizou João Matias.

Já estão a ser realizados workshops com as várias associações e “para muitas delas este projeto é o motivo para se voltarem a unir”, acrescentou.
Grupos de cantares, bombos, pauliteiros, musicais que se estão a juntar para criar “uma abordagem nova para novas abordagens artísticas”, vincou João Matias.

As criações artísticas que serão apresentadas têm uma forte relação com o policromado território transmontano, numa combinação da Terra Fria, da Terra Quente e do Planalto e das áreas protegidas de Montesinho, da Albufeira do Azibo e do Douro Internacional. As principais criações do Festival, com as designações Nordeste e Folia, serão coproduzidas pela Circolando e pela Ondamarela, que fornecem orientação ao trabalho das associações. “São mobilizadas e ensaiadas em grupo e separadamente para dar origem a estas novas criações que vão ser apresentadas ao longo dos próximos meses. Queremos ainda criar novos públicos e novos interesses pela cultura e pela sua fruição”, adiantou o coordenador.
O primeiro espetáculo sobe ao palco em Miranda do Douro durante o Festival Nordeste no dia 27 de maio.

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