Os Jovens de Abril
Este ano marca-se uma espécie de jubileu da Liberdade, nos cinquenta anos da revolução que libertou Portugal do regime ditatorial sob o qual há muito se encontrava. Uma data história, de eterna memória, mas que deve ser sempre relembrada por todos aqueles que partilham a alma lusitana.
Contudo, permita-me o leitor, que nesta breve referência à efeméride, fale de duas categorias de pessoas, a saber: primeiramente, os jovens de Abril; segundamente, os jovens de Abril. No ano sequela em que vivemos as Jornadas Mundiais da Juventude em Portugal, em que não se fala de outra coisa que não dos jovens. Creio, portanto, na qualidade de jovem de abril de que me arrogo, poderei falar na outra categoria, com o devido respeito.
Delimitando o objeto do estudo, chamaremos “Jovens de Abril” a todos aqueles que, detendo à data da queda do regime menos de trinta anos, viveram com todo o entusiasmo, a alegria e exultação o início da liberdade em Portugal. Foram estes jovens que cresceram sobre o regime, que sentiram na pele da sua juventude os seus sonhos limitados, condicionados. Que sonhavam poder ser o que quisessem, mas que a mera expressão dessa vontade poderia significar um bilhete de só ida para o certo destino dos inconformados. Jovens de Abril são todos aqueles que louvaram o Movimento das Forças Armadas e quiserem, no auge da sua juventude, tomar parte na revolução. Jovens de Abril foram todos aqueles que há cinquenta anos conquistaram o seu sonho mais sublime: a liberdade! Deste jovens, há quatro que merecem uma menção especial: Fernando Giesteira, João Arruda, Fernando Reis e José Barneto. Quatro pessoas que sonhavam viver em liberdade, mas que o destino assim os impediu. As últimas quatro vítimas da PIDE, que morreram à sua porta, no calor eufórico do dia revolucionário. Imortalizados por uma placa simbólica, e por um recente filme de Rui Pedro Sousa, “Revolução Sem Sangue, merecem a memória. Quem sonhou com a liberdade, quem celebrou a sua conquista, mas quem não pode dela desfrutar.
São estes jovens que inspiram os segundos “Jovens de Abril”, todos aqueles que já nasceram depois de 1974, no Portugal democrático, no Portugal Europeu. Jovens que não conhecem a ditadura, que toda a vida respiraram liberdade. Jovens que a opressão política e social é uma mera página no livro de história. Jovens que podem reunir, sair, fazer associações, fazer política, escrever, falar, viver. Jovens que são senhores do seu destino. Jovens da liberdade, que toda a vida viveram o sonho dos primeiros. Jovens que poderão nem sequer tido o tempo para parar e pensar na maravilha de viverem em liberdade. São estes jovens, que na sua ousadia vivem os desejos de Fernando Giesteira, os sonhos de João Arruda, as liberdades imaginadas por Fernando Reis e as esperanças de José Barneto, sem medo das represálias de uma polícia política. Os jovens de abril de 2024 devem aos jovens de abril de 1974 a liberdade democrática. Receberam a grande herança, devem saber guardar e estimar este tão frágil tesouro. Na liberdade de concordar e discordar, de ter uma opinião ou outra. De se manifestar ou revoltar; de escolher o curso, o trabalho e o modo de vestir, de comer e quando andar. De não ter medo da polícia, nem de ser preso por ler um livro.
A liberdade é um sonho que se conquistou há cinquenta anos. A liberdade é uma herança que todos os dias deve ser relembrada, estimada e salvaguardada. A liberdade é o que define o ser, o que lhe dá ânimo. É responsabilidade de cada um de nós, jovens e menos jovens, manter vivo o sonho dos quatro mortos de Abril; é nosso dever enquanto cidadãos do Portugal democrático garantir que os filhos de abril, que os netos de abril, que os jovens do abril de 2074 possam também experienciar a liberdade dos jovens de abril de 1974.