A opinião de ...

Aristides de Sousa Mendes (um gigantesco herói português)

Muito recentemente foi dada nova vida à casa onde nasceu Aristides de Sousa Mendes (deve-se sobretudo à Fundação Aristides de Sousa Mendes) que estava bastante degradada, transformando-a em um museu, situada em Cabanas de Viriato, (distrito de Viseu). Embora tardia, foi uma grande justiça feita a este Grande Homem que muito honrou (e Honra) Portugal. Sim, este grande homem salvou da morte, cerca de trinta mil pessoas que fugiam ao terror nazi, na maioria eram judias, mas não só... Mas quem foi Aristides de Sousa Mendes? Muito resumidamente foi assim: Este grande homem nasceu a 19 de Julho de 1885 (teve um irmão gémeo de nome César), em Cabanas de Viriato, na casa do Passal (ou “O Palácio”, como também lhe chamam em Cabanas), distrito de Viseu, dentro de uma família da aristocracia de província, e era filho do juiz José de Sousa Mendes e de Maria Angelina Ribeiro de Abranches. Seu pai, José de Sousa Mendes, foi juiz no Tribunal da Relação de Coimbra. Também Aristides e seu irmão César gémeo obtiveram a sua licenciatura em Direito, na Universidade de Coimbra, em 1907: “Nos inícios de 1910, César e Aristides de Sousa Mendes estavam ufanos, enfarpelados nos uniformes de gala de Diplomatas”1. Ambos enveredaram pela diplomacia. Nesta altura pensou em constituir família e casou-se em 1909, com Angelina, mulher que vai ter uma grande influência na sua vida e com a qual teve catorze filhos, nove rapazes e cinco raparigas, nascidos nos diversos países em que Sousa Mendes esteve colocado. Foram tempos em que o seu dinheiro não abundava… De uma maneira muito sucinta, diga-se que a sua carreira diplomática, teve duas fases: Aristides começou a sua carreira, sendo nomeado cônsul de segunda classe em Demerara (Guiana Britânica) a 12 de abril de 1910; o segundo posto de diplomata foi em Zanzibar (vizinho de Moçambique), onde prestou grandes serviços ao ponto do sultão de Zanzibar o ter condecorado com a mais alta condecoração que poderia ser dado a um estrangeiro; em 13 de maio de 1918, foi para Curitiba e Porto Alegre no Sul do Brasil e em 1919, Aristides de Sousa Mendes foi suspenso de funções por ser considerado: “hostil ao regime republicano (….) É incontestável que o católico, o conservador, o monárquico Aristides de Sousa Mendes não trazia a República no coração2”. Nesta altura vai passar muitas dificuldades…mas foi reintegrado em 1920, e nomeado para a Califórnia (mais precisamente para São Francisco). Em 1926 foi o seu regresso a Lisboa e depois a sua ida para a cidade de Vigo, na Galiza. “Foi nesta altura em que os generais Gomes da Costa e Carmona sublevaram as tropas contra a República”3. Depois, em 1929 foi colocado na Bélgica (mais precisamente como Consul-Geral de Portugal em Antuérpia). Finalmente, em 1938 é colocado, como cônsul-geral em Bordéus. Aqui vai o nosso herói escrever as melhores páginas da sua vida. Vejamos: “Angelina tivera razão: a 1 de setembro de 1939, as tropas alemãs invadiram a Polónia, dando sinal para o início de uma das tragédias mais espantosas de toda a História Mundial4”, ou seja, o início da Segunda Guerra Mundial. E Salazar? Qual a sua “posição”? Iria ter uma “neutralidade cooperante”. Citemos o mesmo autor: ”Pondo novamente na ordem do dia os planos alemães de invasão da Península Ibérica, os partidários de Salazar salientaram a necessidade de não se fazer nada que pudesse «enfurecer» Hitler. (…) Ao lançar a fórmula da «neutralidade cooperante», Salazar estava bem ciente de que se tratava, antes de mais, de uma cortina de fumo, algo que os juristas iriam passar um mau bocado a atentar explicar5”. Ao saber disto, e o que se iria passar, Aristides Mendes e sua mulher mandam os seus filhos para Cabanas. Deixados os filhos a salvo em Portugal, Aristides e a sua esposa voltam a Bordéus. Assim: “A 13 de novembro de 1939, recebeu, como todos os diplomatas portugueses no estrangeiro, uma circular do Ministério dos Negócios Estrangeiros6- a circular nº14- que eliminava radicalmente a tradição de hospitalidade de Portugal, velha de séculos, e que introduzia oficialmente uma noção desconhecida até àquela data: a segregação racial e religiosa (…) Foi então que começou a resistência de Aristides de Sousa Mendes7”. Bordéus tornou-se um centro para onde fugiam as pessoas que queriam escapar aos nazis, tornando-se Aristides de sousa Mendes o seu herói. De todo o lado chegavam refugiados, dorme-se por todo o lado, confirma Jean Chédaille: “nos automóveis, nos bancos dos jardins, nas passagens subterrâneas da estação de Saint-Jean, nas praças8.” Calcula-se que Bordéus já “abrigava” cerca de 25mil ou 30 refugiados. Começou a formar-se uma enorme fila à porta do Consulado de Portugal na esperança de conseguirem uma simples assinatura (ou vistos) no passaporte, que lhes permitisse salvar a sua vida e a dos seus. O Consulado estava cheio de filas e até o gabinete do cônsul estava apinhado de refugiados. Aristides estava muito indeciso entre cumprir as ordens de Salazar e a sua consciência de autêntico cristão. Até que Aristides tomou uma decisão categórica, mesmo contra as ordens de Salazar: No dia 16 de junho de 1940: “O meu pai – conta o seu filho Pedro Nuno- levantou-se, de novo sereno e cheio de energia. Tomou banho, barbeou-se, vestiu-se, saiu do quarto e abriu a porta do escritório, dizendo em voz alta: A partir de agora, vou dar vistos a toda a gente, deixou de haver nacionalidades, raças, religiões.9” Começou assim, mesmo contra a vontade do governo português, segundo Yehuda Bauer, «a maior ação de salvamento levada a cabo por uma só pessoa durante o Holocausto», em Bordéus e também em Baiona. Perseguido por Salazar, passou fome, sem ordenado, foi suspenso e os seus filhos, quase todos emigraram. Com todo este drama e injustiça, Aristides de Sousa Mendes morreu, com uma congestão cerebral e de uma pneumonia, em 3 de abril de 1954, com 68 anos, em Lisboa (mas o seu féretro foi depois transportado de comboio, para Cabanas), mas ficará sempre na nossa História (e na História Mundial), como um Grande Herói. Muito obrigado por teres existido, o Mundo agradece-te!

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