Armando Vara
“Continua por favor, já que o teu exórdio foi bem promissor”. Marco Túlio Cícero
Há anos escrevi um texto relativo a Armando Vara na sequência de acções e nótulas políticas no qual trazia à colação a similitude com Macário Correia outro político mal considerado e pior amado por parte dos árbitros de elegância habituais frequentadores dos Passos Perdidos, sejam deputados, sejam jornalistas e opinadores, sejam refinados burocratas da legião da mão fria.
O deputado nascido numa aldeia soalheira do concelho de Vinhais, oriundo de uma família modesta, logo sem pedigree rural, desde menino viu e sentiu a diferença entre o poder estrefegar botas dando pontapés em pedras e as poupar de maneira a durarem para lá do normal, construído mental e espiritualmente à força do seu querer quantas vezes lacerado emocionalmente porque os verdugos de consciências e corpos primavam em azedar-lhe os dias e as noites no cenáculo circular e mesquinho da cidade bragançana pois a rapaz trazia colada à pele a marca do lugar de nascença. A povoação de Lagarelhos prestava vassalagem a Vilar de Ossos, outrora (século XVII e XVIII) possuía população a conceder-lhe o estatuto de freguesia, dotada de duas confrarias em permanente actividade, cousas perdidas devido à triste emigração devido à persistência de más colheitas geradoras de fomes, doenças e mortes.
Apesar das transformações sociais derivadas do 25 de Abril, apesar da sua progressão profissional e política no Parlamento e mesmo no governo nunca deixou de ser a sua circunstância (Ortega y Gasset) como bem disse em determinada altura demonstrando aguda consciência do desfavor muito bem apontado por Pacheco Pereira aos dois desvalidos provincianos – Armando Vara e Macário Correia – no palco parlamentar.
Há dias o ora homem de Vinhais concedeu uma entrevista à TVI onde o seu veemente crítico Miguel Sousa Tavares lhe coou vários rótulos ofensivos e colocou perguntas agudas e afiadas quanto o fio da navalha de Carlos Gardel (exímio barbeiro de Bragança, não o famoso cantante da bela, radiosa e decrépita Buenos Aires), ele respondeu sem peias, sem receios, sem reservas mentais. Gostei de o ver retrucar a preceito ao filho de Sophia, deu-me alegria verificar a tal circunstância no enfrentar a queda em vários planos da sua vida a lembrar-me o desditado Boécio, o qual no cárcere escreveu uma pungente obra intitulada A Consolação da Filosofia, livro fundamental para todos quantos aspiram ou exercem cargos públicos.
Nessa entrevista não foi lamechas, preferiu salientar as peripécias do processo Face Oculta, a maldade na acusação à filha que se limitou “a ajudar o pai”, por fim uma voz interrogativa acerca do que seria hoje a sua vida caso tivesse dado vazão ao pedido do juiz Carlos Alexandre, a quem acusa de vingança. Sem qualquer surpresa para mim o juiz escusou-se a comentar as palavras de Vara. E agora?
Na entrevista (excelente exórdio) afirmou ir enfrentar a prisão nas antípodas de ser fantasma de si próprio, sim no procurar desfazer os nós corrediços existentes, estudar e sem acessos de medo.
Continuarei a apertar a mão e a partilhar um qualquer evento com Armando Vara que várias vezes comentei negativamente no extinto Cardo quando estava no galarim, no pódio do poder. Uma pergunta: que é feito do séquito bragançano (transmontano) sempre atreito e venerando a prodigalizar-lhe salamaleques e elogios interesseiros?
O exórdio não pode ficar sem continuação!
Armando Fernandes
PS. Até agora ainda não se concretizou a prova de fumeiro de Vinhais combina há anos no aeroporto da ilha Terceira.