A opinião de ...

A importância de um voto

O meu avô António era um tipo peculiar. Criado no seio de uma família de lavradores, durante o Estado Novo, desenvolveu uma série de regras mentais e temores. Sempre me disse, em período eleitoral, que era importante ir lá à urna deitar o voto. Não tanto pela preponderância da escolha mas “para que eles [subentendia eu que eles eram os que mandavam] não vejam depois nos cadernos quem não votou” e não prejudicassem os abstencionistas.
Por isso, para este meu avô António, era fundamental exercer o direito ao voto, ainda que o temor desenvolvido não faça grande sentido aos olhos de hoje.
Já para o meu outro avô António [é verdade, descendo de uma família de muitos Antónios], a preponderância do voto ficou bem patente quando ele próprio foi candidato a presidente da Junta de Freguesia lá da aldeia. Num primeiro momento, empatou com um dos adversários. Foi preciso, por isso, repetir o ato eleitoral.
À segunda vez, este meu outro avô António acabaria por perder a eleição, por um voto, um único voto.
Viemos a saber, muitos anos mais tarde [julgo que ele nunca o soube] que esse voto decisivo contra ele tinha sido o da minha avó, sua esposa. É que ela gostava pouco de o ver metido em confusões, pelo que decidiu contribuir para que o afetado fosse o outro, até porque ainda se viviam tempos conturbados no pós-25 de abril e a desconfiança ainda era grande.
Isto para dizer que um voto faz toda a diferença.
Nas anteriores eleições legislativas, em 2022, a vitória no distrito de Bragança decidiu-se por 12 votos. No cenário mais apertado, uma diferença de apenas seis pessoas que, se tivessem colocado a cruzinha no PSD em vez do PS teriam feito mudar o resultado.
Isto para dizer que, por mais que achemos que o nosso voto não conta para nada e, por isso, nem vale a pena o trabalho de ir à urna, vale a pena lembrar que foram muitos os que lutaram e deram a vida para que, hoje, pudessemos ir livremente exercer esse direito, que é também um dever de cidadania. Sobretudo num território cada vez mais despovoado, todas as vozes são importantes. Façamo-las ouvir. Através do nosso voto.

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