A opinião de ...

Secando a nascente, acaba-se com o rio

De acordo com os dados dos mais recentes censos, o distrito de Bragança perdeu na última década mais de 13 mil habitantes, uma quebra de 9,85%, registando uma população de 122.833 pessoas.
De acordo com as estatísticas oficiais, entre 2011 e 2021, este distrito perdeu 13.419 pessoas, passando de uma população de 136.252 habitantes para 122.833 (-9,85%).
De acordo com os mesmos resultados, divulgados em julho do ano passado, entre os 12 concelhos, todos perderam população, tendo a maior redução ocorrido em Torre de Moncorvo, com -20,42% (6.822 pessoas).
Seguem-se Alfândega da Fé (-15,34%), Freixo de Espada à Cinta (-14,95%), Vinhais (-14,27%), Carrazeda de Ansiães (-13,79%) e Miranda do Douro (-13,58%).
Bragança, capital de distrito, é o concelho com mais residentes mas também este ano sofreu uma quebra de 2,15%, tendo perdido 761 residentes (34.580 pessoas).
O concelho de Mirandela, o segundo maior do distrito, perdeu 2.468 residentes, passando de uma população de 23.850 habitantes para 21.389 (-10,32%).
Ou seja, os dados confirmam aquilo de que se suspeitava, o distrito de Bragança está a ficar mais despovoado.
Outros dados mostram o mesmo fenómeno. Em 2011, nasceram 607 crianças na maternidade de Bragança. Foi o último ano acima dos 600 nascimentos. Em 2016 foram 503 e, em 2021, foram 385. Pela primeira vez, o número de nascimentos no distrito de Bragança não chegou, sequer, às 400 crianças.
Em dez anos, perderam-se quase 37 por cento dos nascimentos.
Ou seja, apesar de todas as políticas e medidas de fixação de pessoas anunciadas por governos (passaram por lá vários partidos) e autarquias, somos cada vez menos.
Mas, agora, entramos numa fase ainda mais assustadora. Desde o final do ano passado, um dos médicos que apoiava a maternidade, de 82 anos, ficou doente. Isso levou a que, num dia por semana, as grávidas que cheguem em trabalho de parto tenham de ir ter os seus filhos a Vila Real.
Apesar de abrirem vagas para a especialidade de obstetrícia e ginecologia e de haver médicos interessados em vir trabalhar para Bragança, o Ministério da Saúde e o das Finanças recusaram autorizar estas contratações.
Do lado de cá do Marão, isto soa a mais dois pregos no caixão do distrito de Bragança.
O fecho de uma maternidade é como secar o nascente de um rio, é o primeiro passo para o matar.
Há 18 anos, quando se começou a falar no encerramento da maternidade de Mirandela, os estudos técnicos apontavam para um limiar mínimo de 1500 nascimentos para manter uma maternidade aberta.
Numa altura em que parece estar na moda falar em medidas para salvar o interior, importa olhar para esta situação.
Se não se repuser o número mínimo de médicos para manter a atividade diária da maternidade de Bragança, não tenham dúvidas que pouco tempo faltará para o seu encerramento.

E, sem uma maternidade aberta num dos maiores distritos do país em área, é condenar os habitantes do distritos de Bragança à inexorável extinção.

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