A opinião de ...

Não passará!

No debate com André Ven- tura, António Costa afir- mou, repetidamente “Não passará!”, numa alusão ao conhecido grito de Dolores Ibárruri, a Pasionaria, nas vésperas da batalha de Ma- drid, recuperando o lema francês da Primeira Guer- ra Mundial. O mote com que iniciou a sua interven- ção e a que recorreu ao lon- go da discussão com o seu oponente teve a assumida intenção de, por um lado, traçar uma linha divisória entre o seu partido e o do seu opositor e, por outro, marcar uma clara diferença com o seu principal e ver- dadeiro contendor, nesta disputa: Rui Rio.
Probo, sincero, direto e honesto são atributos que facilmente se associam ao Presidente do PSD. Nem os seus maiores adversá- rios o contestarão, convic- tamente. Usando o célebre critério político é um can- didato a quem, qualquer um, compraria um carro usado. Seria o primeiro da minha lista e, não duvido, da maioria dos eleitores. Mas, sendo essas qualida- des relevantes para definir a personalidade do candi- dato a primeiro-ministro, podem contudo não serem suficientes para lhe outor- garem o lugar pretendido. Constituiriam, porém, um patamar seguro para um passo nessa direção se a sua afirmação “não quero o poder a qualquer custo” fosse depois levada à risca e de forma intransigente. O problema é que esse louvá- vel lema para um dirigente político respeitável e com sentido de estado, como acho que Rui Rio quer ser
visto e reconhecido, trope- ça, logo a seguir na inex- plicável transigência com o anúncio de propósitos e propostas de retrocesso ci- vilizacional como a prisão perpétua, a castração quí- mica, a intolerância racial, a desigualdade fiscal, entre tantas outras que de tão re- prováveis nem sequer têm cabimento num programa escrito para poderem ser afirmadas ou suavizadas de acordo com quem as escuta. Em nome de quê? Em nome da possível “ne- cessidade” de dialogar com quem pode viabilizar a che- gada ao poder onde acabou de se jurar que não se quer “a qualquer preço”.
Vem depois justificar a sua condescendência garantin- do que o tal radicalismo, ideologicamente inacei- tável, é-o sendo modera- do, sendo gradual, sendo tendencial. O problema é que a gradualidade, a ten- dencialidade e a pretensa moderação só o são como condição provisória para facilitar o acesso ao poder. A história já no-lo provou. Porque, determinadas for- ças só chegam ao poder através da força ou mas- carando as suas intenções com cândidas moderações, hipotéticas gradações e presumidas tendencialida- des. No que toca a princí- pios, não pode haver con- descendências! O acesso ao poder sendo o legítimo ob- jetivo de qualquer partido, por maioria de razão dos maiores e melhores apetre- chados para tal, não pode justificar todas as conces- sões para o obter.
Não se pode querer ganhar o céu, vendendo (ou hipo- tecando) a alma ao diabo.

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3866

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