Os Extremos
Independentemente do seu alcance e da sua radicalização, os extremos, existem. Por definição, as franjas, de um lado e de outro de tudo quanto se situe ao centro, são os extremos do mesmo. Mais ou menos extremistas, mas isso é outra questão. É natural que tenham algumas semelhanças entre si, mas igualmente hão de ser caracterizados por diferenças substanciais. Não são a mesma coisa nem a sua distância ao centro é a mesma, sendo, inclusive, variável, para cada grupo, em função do tempo e das circunstâncias. Igualmente, de acordo com a época histórica, são mais ou menos tolerados quer por grupos substanciais das populações quer do próprio regime democrático.
Em teoria, a democracia deve ter lugar para todos. Sendo um regime em que o poder reside na maioria, porque, de outra forma perderia a sua própria essência, tem o dever de respeitar as minorias por duas razões: em primeiro lugar porque a verdade e o indeclinável bem comum nem sempre são reconhecidos, como devem, pelas massas, sendo vulgar serem empunhados, primeiramente por uma elite minoritária, e em segundo, como consequência, é um facto que não existem maiorias instantâneas; todas nascem de um pequeno grupo que durante um determinado período, mais ou menos longo fez um caminho quase solitário.
Quem reclama que uma votação expressiva lhe confere legitimidade para promover a aniquilação de adversários hoje, com menor representatividade… não pode esquecer que ainda há bem pouco tempo a formação que hoje reclama uma ampla aceitação era largamente minoritária começando por ser absolutamente solitária. Foi a tolerância e aceitação, por parte da maioria dessa altura, que permitiu o seu crescimento e lhe deu a possibilidade de ascender ao patamar onde chegou.
É preciso, pois, que a democracia respeite e aceite, no seu seio, as diferentes formas de pensar e agir, mesmo que sejam apoiadas por pequenos grupos da sociedade.
Quer isto dizer que todos os extremismos são legítimos e devem ser incondicionalmente aceites e respeitados? Nem pouco mais ou menos. De forma nenhuma. Em sociedade, há um limite para todas as prorrogativas. Cabe à democracia estabelecê-los de forma ponderada e fugindo à tentativa de estabelecer espelhos e benevolências compensatórias. Independentemente da sua origem o Estado de Direito não pode aceitar quem atente contra as suas bases pondo em risco a sua própria existência, em toda a plenitude. Muito menos se tal acontecer com recurso à violência. Independentemente de quem a ela recorre ser de esquerda ou de direita.
Quando um determinado quadrante vem a público tentar justificar atitudes reprováveis, da sua área política com potenciais práticas parecidas, passadas (mesmo que fossem presentes) do outro espectro só demonstra falta de melhores argumentos embrulhada em elevada dose de hipocrisia.
Nas décadas de setenta e oitenta do século passado, ao mesmo tempo que o mundo assistia a várias ditaduras de direita (algumas apeadas por legítimos movimentos armados) surgiram, igualmente, inúmeros grupos armados, extremistas que recorriam à violência sobre cidadãos e instituições democráticas e, como tal, foram condenados pela justiça institucional, em nome da esmagadora maioria dos cidadãos. Em Portugal tivemos, depois do 25 de abril, exemplos de ambas as franjas ideológicas, o MDLP e as FP 25. Ambas devidamente combatidas pelas forças da ordem e, em consequência, extintas. Não servem, pois de justificação para qualquer nova aventura extremista, venha de que quadrante vier!