Riscos encarnados
Nunca se falou tanto de linhas vermelhas como agora.
Por causa do Orçamento todos estão a traçar os seus limites, seja o Governo, seja a oposição maioritária, seja a oposição minoritária marcando fronteiras definidoras do caminho percorrível, daquele que, em circunstância alguma poderá ficar debaixo dos pés de quem, criteriosamente as desenhou… até que as circunstâncias, as oportunidades, as contingências e os mais altos desígnios da nação, do partido, do grupo ou da própria ambição as faça deslizar, avançando ou recuando até aos limites da irrevogabilidade que, igualmente são definidas de acordo com as conveniências do momento ou dos interesses do curto ou médio prazo.
Assim nascem, assim se movem, assim desaparecem, renascem, erguem-se, afirmam-se, desfazem-se e esvanecem-se as tais linhas que, por uma razão qualquer, que desconheço, se convencionou de colorir de vermelho.
Podiam ter outra cor qualquer.
São traços que delimitam áreas, que estabelecem limites, que definem barreiras a partir das quais tudo muda, de tal forma que, por mais pequeno que seja o avanço, a caminhada transfigura-se e o retorno fica impossível. Às vezes parece ser bem pouco, mas é o suficiente para alterar a própria natureza… é o passo singelo e curto, à beira do abismo, depois de longa caminhada contínua de milhares de passadas em tudo parecidas com a última… exceto nas dramáticas consequências.
Por muito que PS e Governo queiram convencer-nos do contrário, pouca diferença haverá, na qualidade (já que na quantidade, efetivamente não há, significativamente) entre os valores perfeitamente razoáveis e os completamente inaceitáveis.
Porém, apesar de Carlos Moedas teime em pretender que não há qualquer diferença entre ser detido por um agente da PSP ou por um membro da Polícia Municipal, por ambos terem a mesma origem… não é assim pois o facto de um depender de um comando independente e o outro estar, como o próprio Moedas fez questão de referir, poder agir a mando, direto ou indireto, de um autarca, constitui um desnível qualitativo idêntico ao que separa a plataforma plana da ravina onde desemboca.
Igualmente nas guerras que, desgraçadamente estão a marcar os tempos correntes, temos vindo a assistir à padronização das batalhas tecnológicas onde drones, misseis teleguiados, orientação remota, têm ocupado a arena, dominado a ação e assumido o controlo das maiores refregas. Muito se disse e dirá, sobre a sofisticação, inovação e, até… autonomia. Ora aí, independentemente do horror da destruição e mortandade que os atuais conflitos estão a provocar, a linha que nunca poderá ser ultrapassada… acaba de ser anunciada pelo exército ucraniano revelando que estão a ultimar um drone capaz de operar totalmente autónomo, capaz de operar sem qualquer intervenção humana, totalmente comandado por inteligência artificial. Quando for entregue a uma máquina, por mais inteligente que seja, a capacidade de decidir, por si só, sobre uma vida humana, acabou de se cair num abismo de dimensões e consequências inimagináveis… O precipício onde a humanidade caiu, não tem retorno e por mais que se possa assemelhar a uma caminhada dura e cheia de obstáculos… tem um gérmen de tal forma pérfido e malévolo que, uma vez aceite, nunca mais nada será como dantes