A opinião de ...

Este mundo

Eu não aceito este mundo...
Não aceito este mundo
Que se autodestrói
E em vez de construir, só desconstrói;
Que, ao destruir-se,
Continua impunemente a distrair-se,
Embora consumido e ameaçado
Pelas armas que, dia a dia, inventa e cria.

Preso ao terror que dessas armas lhe vem,
(Ao qual é impossível fugir alguém),
Este mundo da ignomínia, da maldade,
Da luxúria, desamor e corrupção,
Assumiu que tem na mão muitos valores
Em que o primeiro é o deus dinheiro!

Um mundo que ao dinheiro, ajunta o poder,
Poder que, para o ter, o tirano não se importa
De recorrer à espada,
Ao chicote, ao açoite, à vergastada.

E assim, quebra e faz sofrer
Gente que, depois de tanto enxovalhada
E a descrer, irá ser sepultada,
Em terra desconhecida,
Terra para sempre abandonada e esquecida!

(Entretanto, outra gente irá crescer
E que também torturada virá a ser,
Para que continuem a mandar o dinheiro e o poder).

Eu sinto repulsa por este mundo
Em que tantos amedrontados,
Tolhidos na sua vontade e na sua dignidade,
Forçados e enlouquecidos
Por uns poucos de indivíduos
Preferem a desolação do deserto,
A maldição das trevas
Ou a profundidade do mar,
Para que ninguém os possa ver e atormentar.

Não gosto, pois, deste mundo
Em que, também obrigado, lentamente me afundo
Para não ter de sofrer, como os que sofrem,
Não ser humilhado, atraiçoado,
Incompreendido, vilipendiado
E subtraído ao bem que a todos pertence,
Sem descriminar ninguém.

Eu não aceito este mundo,
Um mundo que derruba e queima florestas,
Que, num eterno segundo,
Teima em não eliminar as arestas
Que a Terra, de encantadora beleza,
Ferida em graves convulsões
De insensatez e de guerra, criou para sua defesa.

Eu não aceito um mundo predador dos animais,
Destruidor dos rios e dos mares, de toda a Natureza…
Um mundo autofágico, torturador,
Impiedoso e trágico,
Um mundo em que o grande denominador
Dá pelo nome de terror,
Ao mesmo tempo que ri da pobreza,
E corre para cada vez mais, acumular mais riqueza.

Não quero viver num mundo
Que, nas noites iluminadas pela luz artificial,
Nos esconde a beleza da noite sideral,
Um mundo que não consegue resistir às tempestades,
E a tantas marés que engolem gentes e cidades!

Edição
3969

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