A opinião de ...

Oração e silenciamento: os passos decisivos para uma vida mais plena

(continuação a edição anteriror)

Por isso, na pedagogia da oração, o silêncio reveste-se de particular importância. Ele que brota não da solidão, mas da solitude. Mais, a solidão, tal como a sede ou a fome, atormenta-nos. Porém, se ela for uma solidão habitada, suscitar-nos-á a necessidade de estarmos fisicamente a sós, apenas eu com os meus eus, de saber ouvir a voz interior e de escutar atentamente a voz de Nosso Senhor. Sagazmente, D. Erik Varden (monge trapista e bispo norueguês), numa entrevista ao Diário do Minho (24/4/2023, Braga), assevera que lhe parece que “a solidão é aquele ambiente, aquele contexto no qual é possível esta recordação de mim mesmo, que explicita a minha identidade, a minha personalidade e me torna disponível a um encontro pessoal”.
Como é difícil fazer silêncio e escutar. O mundo contemporâneo perdeu o primado da interioridade. Todavia, D. José Cordeiro (Arcebispo de Braga), é muito assertivo ao dizer que “a interioridade é a força que faz despertar a esperança e assumir a responsabilidade de estar à altura dos desafios da vida. O futuro está na interioridade e sem memória não há esperança” (Varden, 2024, p. 7). É somente o silêncio que conduz ao recolhimento, à interiorização e à oração interior. Que saibamos estabelecer para cada um de nós este desafio de iniciarmos o processo de silenciamento. Por outras palavras, de iniciar a viagem de regresso ao coração, o lugar onde eu sou eu, sem máscaras, sem filtros, sem maquilhagens. Aí, e somente aí, damos início ao processo transformador das nossas vidas. Pois, do autoconhecimento nasce o encontro comigo mesmo e, mais importante, com Nosso Senhor.
É simplesmente aqui, neste encontro, neste processo transformador que eu percebo que o sentido último da vida está em ser vida para mim mesmo e ser vida na vida de alguém. D. Erik Varden resume tudo isto na perfeição. Diz ele: “quero ser alguém capaz de ser amigo, capaz de oferecer amizade e capaz de receber amizade, e então o encontro que se seguirá é a graça de qualquer encontro. Porque um encontro verdadeiro é sempre uma dádiva. Mas precisamos de nos preparar para receber esse presente” (In., Diário do Minho, 24/4/2023, Braga).
Ouse a dizer a si mesmo: hoje é o dia, hoje é o passo que vou dar para este silenciamento, para viver a minha vida na união com Nosso Senhor, que possa viver a vida pela melodia da oração e que dela eu possa viver a minha vida como uma solidão habitada pela memória, pela gratidão e pela graça divina.
Deixo, como nota final, a sugestão de ouvirem o podcast “E se falássemos de Fé” (link: https://youtube.com/@esefalassemosdefe?si=sYwmcKRFTU8X5c9q ), na certeza que poderá ajudar muito na compreensão desta temática.

Edição
4019

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