ENTREVISTA AO PRESIDENTE DA CÂMARA DE BRAGANÇA, HERNÂNI DIAS

“Acho que o governo fez a discussão pública da ferrovia para cumprimento dos desígnios legais e marimbou-se para tudo o resto”

Publicado por Glória Lopes em Qui, 2023-03-23 09:16

A luta pela inclusão no Plano Ferroviário Nacional de uma ligação por comboio em alta velocidade entre o Porto e Zamora, passando pelo distrito, levou o presidente da Câmara Municipal de Bragança a tomar a liderança da reivindicação. O autarca levantou a voz até em palcos fora da região. Hernâni Dias em discurso direto.   

Mensageiro de Bragança: Ficou desiludido com o anúncio do secretário de Estado das Infraestruturas, que veio a Bragança no passado da 27 de fevereiro, de que a ferrovia não vai começar por Trás-os-Montes?
Hernâni Dias:
Sim, fiquei, porque não era disso que estava à espera. Até porque, todo este trabalho que tem vindo a ser feito deveria culminar com a decisão de a ferrovia ter ligação a Espanha, mas com a particularidade de ter um traçado em alta velocidade. Se assim não for o território continuará a ficar arredado daquilo que são os grandes canais de transporte ferroviário a nível nacional e europeu e isso não interessa nem à região, nem ao país.
Eu creio que a vinda do secretário de Estado foi apenas para cumprir calendário. Esta forma de defender o território, como foi o caso desta iniciativa [organizada pelos deputados do Partido Socialista no Parlamento] devia acontecer no órgão próprio que é a Assembleia da República, porque são  essas pessoas que suportam o governo. Vir aqui para dizer o que já tinha dito no dia 20 de janeiro de 2023, no Conselho Regional do Norte da CCDRN, não acrescentou nada às nossas reivindicações e preocupações. Nota-se que o governo não está minimamente preocupado com este processo de desenvolvimento integrado do território e está, claramente, a esquecer o Nordeste Transmontano e até a prejudicar a região Norte ao condicionar o processo de desenvolvimento e a direcionar-se num sentido quando até as dinâmicas empresariais estão mais do lado do Norte.

MB: Acha que já não há volta a dar na decisão?

HD: Eu espero que o governo mude de opinião e que olhe para este espaço fazendo aquilo que foi solicitado, também era dar um sinal positivo. Não é uma questão de discriminação positiva, mas de justiça: a de iniciar a ferrovia pelos locais de onde foi retirada há mais tempo. Nós [distrito] ganhamos a todos.  Fomos os últimos a ter ferrovia e fomos os primeiros a ficar sem ela. Tivemos ferrovia 86 anos, com imensas limitações e foi retirada com o argumentod do défice de exploração. Qual é a linha do país que não tem défice de exploração? A CP há pouco tempo tinha uma dívida superior a 800 milhões de euros. Compreendo que a linha que existia estava desadequada, obsoleta, longe das localidades e afastada da realidade e das dinâmicas atuais. 

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