Nordeste Transmontano

Aldeias do Parque Natural de Montesinho ganham vida com voluntariado de escuteiros belgas

Publicado por António G. Rodrigues em Qui, 2023-07-20 10:07

O mês de julho é sinónimo de mais vida e agitação para muitas aldeias do Parque Natural de Montesinho, nos concelhos de Bragança e Vinhais.

É nesta altura que a chegada de escuteiros belgas, voluntários, traz animação e bulicio a localidades que, durante o ano, se debatem com o despovoamento.

“No mês de maio, as populações já começam a ficar ansiosas e a perguntar quando é que eles chegam”, conta Susana Abrantes, técnica do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e responsável por este projeto de voluntariado internacional há 26 anos.

Este ano, o Mensageiro foi encontrar um dos grupos na aldeia de Meixedo, às portas de Bragança, que ainda não tinha recebido este programa.

“Para as freguesias desta zona do Parque Natural de Montesinho é muito importante. Por um lado, a animação que estes jovens trazem a estas aldeias durante estes 15 dias. Para além disso, a mão de obra que dão a estas localidades, com restauro de património, pintura de muros, de portas, de grades. Este trabalho que custaria dinheiro às freguesias mas que estes jovens fazem de forma gratuita”, diz ao Mensageiro Telmo Afonso, presidente da União das Freguesias de Sé, Santa Maria e Meixedo, a maior do distrito.

Na sua opinião, este projeto “devia ser replicado por outras instituições e, até, pelos nossos jovens portugueses”. “Nos tempos de férias terem ocupação neste período de verão. Assim como por outras pessoas, que podiam replicar, com mão de obra. Todos tínhamos a lucrar. As nossas aldeias e cidade ficariam muito mais bonitas”, sustenta.

Ao longo de duas semanas, os jovens dedicam-se a limpar ruas, pintar monumentos, como igrejas e santuários, recuperar muros, pintar gradeamentos, limpar trilhos ou rios.
“Há 26 anos que recebemos voluntários de vários países. A maioria vem da Bélgica e da França. Já recebemos 1404 jovens e adultos”, revela Susana Abrantes.
“Até agora, são 26 anos a tentar ajudar um bocadinho as populações do Parque, a tentar que estes jovens não só animem mas ajudem também a conservação do património construído e a conservação da natureza quando limpam as florestas e rios”, acrescenta.

Este ano vieram três dos quatro grupos previstos, de um total de 50 jovens, para as aldeias de Meixedo, Vilarinho e Quintanilha, no concelho de Bragança.

Para as populações, “é uma alegria”. “É muito positivo. Além de ser movimento que trazem à aldeia, que, como todas, está com falta de jovens, sempre é mais uma animação. Além disso, é um trabalho que estão a realizar em prol da população”, comentava o residente Manuel João Rodrigues.

Apesar de serem francófonos, “já começam a perceber português”. “Comunicar acaba por ser fácil e de bom entendimento. Há sempre gente que esteve emigrada e fala francês. Os trabalhos que fazem são de grande importância. De outra maneira não seria muito fácil que se realizassem. Por um lado por indisponibilidade de meios e de pessoal. Fazem ao ritmo deles mas fazem”, aponta.

Para Carlos Reis, este “é um bom projeto e que dá movimento à aldeia”. “Era importante que houvesse mais iniciativas destas, isso sim”, atira, por sua vez, João Pinto, outro dos habitantes de Meixedo.

Maria de Lurdes Pinto, que pertence à comissão de festas de Santa Ana, diz que “este projeto trouxe benefícios à aldeia”. “Têm feito um bom serviço e são simpáticos”, garante.
Já a vizinha Lurdes Reis concorda que “traz mais vida à aldeia”.

Thomas Govartz, 25 anos, o mais velho do grupo (a maior parte tem entre 17 e 18 anos) é o chefe dos escuteiros. Diz-se “encantado” com as paisagens que descobriu em Meixedo. Oriundos de Mont Saint Guibert, próximo de Waterloo, a sul de Bruxelas, explica que “o objetivo deste projeto é duplo. Por um lado, uma vertente social, de podermos tomar contacto com a população local e, ao mesmo tempo, participar num projeto que consideramos de durabilidade”.

Sobre as pessoas, diz que “a relação é boa”. “Vamos participar na festa religiosa. São muito simpáticos connosco, vêm trazer-nos fruta, legumes, vêm ver-nos”, explica.
Já Justin passou três meses a tentar aprender português pela internet antes de embarcar nesta aventura. Mas a timidez fá-lo retrair. “As pessoas são muito simpáticas e gentis. Há muita gente que nos vem ver e que ficam contentes por estarmos aqui”, concluiu.

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