Uma vez por ano, o brigantino Bruno Pires pendura a farda da PSP e veste o fato-macaco para estar presente no Rali Dakar

Há cinco anos que, chegando o mês de janeiro, Bruno Pires pendura a farda de agente da PSP que usa em Bragança pelo fato-macaco e parte para a Arábia Saudita, onde tem participado no Rali Dakar.
Se, nas primeiras cinco edições em que participou, foi o responsável pela mecânica da mota de António Maio, ele próprio um militar da GNR mas em Lisboa, desta vez o agente brigantino está na Arábia Saudita, onde falou com o Mensageiro, ao serviço da Honda HRC, a equipa oficial da marca nipónica de motas, que é gerida pelo algarvio Ruben Faria.
“Com o Maio era um projeto português com o qual fizemos cinco Dakares. Terminou e, entretanto, fui contactado pelo Ruben, diretor da equipa de fábrica da Honda. Como o Campeonato do Mundo engloba mais dias do que os que tinha de férias, colocou-se logo um problema. Não podia ficar a fazer a mecânica de um piloto porque não tinha dias suficientes de férias para poder fazer as corridas todas”, explicou ao Mensageiro.
Foi assim que assumiu outro tipo de funções.
“A minha função aqui é ser responsável por um camião, pela condução de umas etapas para as outras mas, também, por toda a estrutura, desde ao nível de peças ao suporte logístico. Portanto, uma função não tanto ligada à mecânica mas de suporte à parte mecânica”, explicou ao jornal diocesano, em Hail, na Arábia Saudita, durante o dia de descanso da competição.
Essa é mesmo a parte mais custosa deste hobby. “A parte mais custosa é que os dias que tenho de férias são todos ocupados com as corridas. Não há outra forma”, diz, resignado.
Por isso, está a pensar solicitar licença sem vencimento para poder acompanhar a equipa nas restantes corridas do Campeonato do Mundo de todo-o-terreno, que passa por países como o Dubai, Marrocos, Abu Dhabi e Portugal.
Bruno Pires está na PSP “há 17 anos” mas o gosto pelos motores já o acompanha desde criança.
“Desde criança que tenho o gosto por motores, por motas, por competição. Fiz uma prova ou outra, as chamadas ‘pirata’. Mas nunca estive ligado à competição como piloto”, recorda.
“Primeiro que tudo, foi a parte policial. Iniciei a minha vida militar com 19 anos, foi onde conheci o António [Maio], que estava na Academia Militar da GNR. Comecei a ir com ele a umas corridas, e o meu envolvimento com ele foi sendo cada vez maior, até chegar ao ponto de estar a fazer a mecânica da mota dele e começámos o projeto internacional os dois.
A parte policial veio logo de seguida. Depois da parte militar, enveredei pela PSP e conciliei sempre as duas coisas”, revela Bruno Pires.
Apesar de também nunca ter tido formação específica de mecânica, ela foi aparecendo.
“A formação começou a aparecer consoante foram aparecendo as necessidades do António, quando evoluiu dos raides para os ralis, com a parte de navegação e todos os periféricos relacionados. Tive necessidade de aprender para o ajudar no dia a dia dele”, diz.
Por outro lado, Bruno Pires admite ser “um privilegiado”. “Mesmo quando estava na Unidade Especial de Polícia, em Lisboa, sempre fui acarinhado, tanto pelos superiores como pelos colegas. Em Bragança, de igual forma. Fui muito bem recebido quando cheguei e uma coisa nunca inviabilizou a outra”, concluiu.
Da parte do patrão, Ruben Faria explica que os portugueses são parte essencial da equipa e já são 12 dos 42 elementos.
“O que trazem de diferente? Em primeiro lugar, a confiança. Quando cheguei, a equipa era constituída maioritariamente por espanhóis. Agora, a maioria não são portugueses mas o português não tem medo de trabalhar, de se sujar, trabalham bem. Não há aqui um que esteja por ser meu amigo. Ainda sou mais exigente com os portugueses, porque sei das suas capacidades e eles são bons”, frisou Ruben Faria, diretor desportivo da Honda.
O algarvio, antigo piloto de motociclismo, chegou em 2019 e a equipa venceu logo em 2020, 2021 e 2023.
“A equipa já existia. Prometia muito mas nunca tinham ganho. Quando entrámos, ganhámos. Não nos podemos acomodar”, concluiu.
Piloto transmontano é o melhor português das motas
Mas também na competição das duas rodas o Nordeste Transmontano está representado, e ao mais alto nível.
Rui Gonçalves (Sherco) é o melhor representante nacional na categoria de motas. Na quarta-feira, à entrada da prova no deserto Empty Quarter, ocupava a 11.ª posição da classificação das duas rodas, depois de ontem ter sido segundo na etapa.
O antigo vice-campeão mundial de motocrosse da classe MX2 é natural de Vidago, no distrito de Vila Real, mas o pai é natural de Izeda.
Aliás, foi em Izeda que o piloto passou as festividades natalícias.
“Estive lá agora no Natal, com a minha família. É algo a que dou muita importância, a família, e gosto sempre de regressar ao Nordeste Transmontano”, sublinhou Rui Gonçalves ao Mensageiro, durante o dia de descanso em Hail, na Arábia Saudita.
Depois de uma carreira no Mundial de Motocrosse, onde se estreou com 16 anos, o piloto transmontano mudou-se para o todo-o-terreno, onde compete pela equipa oficial da Sherco, uma marca espanhola.
Atualmente com 40 anos, o transmontano promete “dar o melhor” sem pensar em resultados.