A opinião de ...

,João Rendeiro,

Mataram o banqueiro esteta a lembrar o actor do filme O Ladrão de Casaca, só que o curador das fortunas de alguns ricos escolheu mal o lugar de repouso, calculou erradamente as possibilidades de usufruir sol e praia longe das moscas varejeiras, foi apanhado num país no qual a vida da esmagadora maioria vale menos que um pataco, atiraram-no para uma enxovia estilo Pol Pot, sujeito a toda a sorte de sevícias até por era branco num País ainda há poucas dezenas de anos praticava a repelente segregação racial.
Quem matou João Rendeiro? Podem aparecer provas concludentes de o amante de pintura contemporânea se ter suicidado, no entanto, a génese do seu abrupto e tortuosa finitude deve-se em exclusivo ao sistema judicial português cuja pantagruélica lentidão conduziu a este desfecho para lá da afanosa publicidade da PJ no momento da captura, da supina exibição de Rendeiro em pijama, para lá dos magistrados tidos como responsáveis pelas demoras na detenção do antigo presidente do BPP terem sido aspergidos pelo Conselho Superior da Magistratura com gotas de água benta a isentá-los de responsabilidades.
A mais que provada demora na conclusão dos processos provoca toda a casta de incómodos, prejuízos, dores e sofrimentos aos cidadãos, os arquivos de todo o género referem as queixas e agravos dada a morosidade da justiça especialmente dos processos de maior complexidade e volume.
O sistema tem de expurgar as enfermidades que sofre, tem de ser uma justiça/justa, igual para todos, incapaz de gerar monstros processuais, enfim: livre de ambiguidades e subtilezas tendentes a potenciar o seu descrédito.
O falecido não leu bem a fábula da rã e do boi, inchou, inchou de prosápia, de jactância, desafiou o Estado, colocou a ridículo um dos pilares da organização desse mesmo Estado, as abelhas enfurecidas reagiram, o foragido acabou da pior maneira – morto numa cela latrinária – que é melhor não imaginarmos estes tugúrios são. A minha avó Delfina avisava a todo instante: Deus nos livre, da cadeia e do hospital!
O provérbio adverte quem tudo quer, tudo perde. Ele e, muitos mais pereceram por não saberem do minar a ambição.

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3884

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