O desacordo
Eu escrevo conforme me ensinou a Dona Aninhas Castro. Assim continuarei a proceder.
Ela ensinava magnificamente, eu é que desacerto de vez em quando, a pressa do momento não justifica sair do leito da concordância, nem esquecer as admirações e interrogações. Arreliado penitencio-me relendo os Mestres da língua portuguesa, especialmente António Vieira e Manuel Bernardes, também glórias da Igreja.
Sempre escorado nos dicionaristas, gramáticos e lexicógrafos procuro emendar-me, no entanto, quando menos espero tropeço e lá vai pontapé na magna gramática. Há anos procurei entender a matricialidade do novo Acordo Ortográfico, após ler Questões de Língua Pátria, dois volumes, o segundo saiu em Dezembro de 1947, do erudito Xavier Fernandes, onde judiciosamente trata das reformas ortográficas, das comissões a elas adjacentes, não faltando considerações relativas ao idioma brasileiro, desisti do intento. Lembrei-me da Professora; sentada no tampo de uma carteira mandava-nos colocar as palmas das mãos no seu regaço, o dorso recebia reguadas conforme o número de erros semeados nos ditados, cópias e exercícios, quatro faltas davam direito a uma punição.
O Francisco Cepeda, o António Afonso, entre muitos outros também a tiveram como Mestra solícita, exigente e sempre expedita a informar os progenitores da evolução escolar dos seus rebentos. Em face do acima exposto para mim factos são factos e não a soma de um fato completo – casaco, calça e colete – que no Brasil é terno, assim como acta é a súmula do ocorrido numa reunião e não o ata desata os sapatos. Porque vem ao talhe de foice pára é mesmo intimação à quietude e não para fazer ouvidos de mercador, os émulos de Malaca Casteleiro bem podem ordenar nos cocurutos das Academias, nas secretarias de Estado e na Assembleia da República, continuarei a escrever conforme o aprendido, a cumprir penitências devido às caneladas que sem legitimidade propicio à já referida gramática.
Tivesse eu o talento de Vasco Graça Moura, magnífico poeta, notável tradutor e gestor/programador cultural de amplíssima visão, com quem tive o prazer de trabalhar durante três anos, e conceberia vivaz crónica a escavacar o famigerado acordo, na falta dele restrinjo-me ao aclaramento da minha posição.
Os computadores mal mandados executam operações de travesti aos textos, nada posso fazer ante a operação, quando os meus eventuais leitores o verificaram façam o favor de desculpar a afronta. Há muito Sousa a escrever Souza.