A opinião de ...

O lento retorno

A lente caiu, fiquei privado de claridade, o conceituado oftalmologista bragançano António Sampaio operou-me, agora recupero ao ritmo dos antigos comboios galegos amofinando-me os dias neste tempo de cólera destilada até à embriaguez por sevandija da estepe a que também chamo Putin, eufemismo benevolente por respeito à sua Mãe, ao povo russo em geral, aos seus geniais criadores artísticos e literários sem esquecer cientistas, sábios incluindo os portugueses ali instalados a ensinarem a fazer/fazendo, um deles nado numa aldeia de Bragança a lutar contra os nazis na II guerra mundial.
Anseio pelo dia da retirada dos pontos resultantes da intervenção, chegado ao ninho familiar logo irei retirar da estante o Músico Cego (livro de Vladimiro Korolenko) a fim de o reler no intuito de tentar intuir de modo mais profundo as agruras e angústias dos privados da visão, sejam eles humildes invisuais a pedirem esmola de porta em porta, nas estações do Metro, ou famosos executantes de jazz como foi Ray Charles ou como é Andrea Bocelli, entre outros.
Nos meus tempos em Bragança ainda vi o desditado Santa Rita Xisto de bengala na mão farejadora de obstáculos que não de pústulas mal cheirosas e escorregadias nas imediações do Convento de S. Francisco.
Apesar do Mundo estar a sofrer os efeitos de pesado véu de plúmbeo carregado de metralha desde há décadas, (centenas de anos, para ser mais rigoroso) nunca como agora verificamos e vemos os efeitos da barbárie e, a este propósito relembro o pungente romance Praias da Barbaria, do notável escritor que foi Norman Mailer.
A lentidão aviva-me a memória das senhoras simpáticas de sorriso largo ao pedirem-me livros com livros com letras gordas quando andava na itinerância cultural nas aldeias dos concelhos de Bragança e Vinhais fazendo parte da maior e mais emblemática acção cultural da Fundação Gulbenkian mercê do entusiasmo visionário do escritor Branquinho da Fonseca e do resoluto apoio do ínclito Presidente Doutor José Azeredo Perdigão, o Serviço de Bibliotecas foi extinto pela tibieza interesseira de uma pessoa, da inacção comodista de uns e outros, também em virtude das irrupções sociais. Evidente prejuízo cultural para os mais pobres, os mais isolados e, primacialmente, para as crianças.
Um alforje com jornais nacionais e estrangeiros engorda todos os dias, boa pilha de livros também, vou martelando o teclado, não sendo émulo de Job esmigalho a impaciência recorrendo horas a fio ao Mezzo. Melhores dias virão!

Edição
3874

Assinaturas MDB