Matematicamente pensando: De quem são as dívidas?
A problemática associada às dívidas faz parte do quotidiano das pessoas, das organizações e dos Estados. Independentemente da posição que se tenha relativamente às dívidas, é um facto que existem dívidas que condicionam a vida das pessoas, das organizações e dos países.
Quando se aborda um determinado conceito é essencial, antes de o discutir, clarificar o conceito, no sentido de cada pessoa poder assumir posições em função do entendimento, o mais consensual possível do tópico em discussão.
Tendo por base o dicionário da Porto Editora, Infopedia, apresento alguns sinónimos que poderão ajudar a compreender o conceito de dívida. Assim, entre outros, dívida pode ser considerada “aquilo que se deve”, “obrigação; dever”, “dever moral ou material em relação a alguém que foi prejudicado”, “reconhecimento; gratidão”, “não ter ainda cumprido, dever”. Na Wikipedia, associado ao conceito de dívida pode ler-se: “Débito (ou dívida) é o que se deve, geralmente se refere ao ativo, mas o termo pode cobrir outras obrigações. Em se tratando de ativos, dívida é a maneira de se usar um futuro poder de aquisição no presente antes de que uma soma tenha sido ganha”.
Das ideias e sinónimos de dívida, apresentadas, podemos inferir que o conceito de dívida está sempre associado a pelo menos duas entidades, uma que adquire um determinado bem antes de o ter ganho, e outra que disponibiliza condições para o adquirir mediante acordo entre ambas.
Qualquer que seja o acordo entre as partes, toda a dívida implica compromissos, e esses devem ser integralmente respeitados. No entanto, diariamente constatam-se situações incoerentes, tais como dívidas cobradas sem existirem, ou negação de compromissos previamente assumidos.
Quem compra um carro a crédito diz, de imediato, que o carro é seu. Mas o carro é dele ou de quem lhe emprestou o dinheiro? Penso que não há dúvidas, o carro é de quem o comprou enquanto satisfizer os compromissos assumidos. Compra-se ou constrói-se uma casa recorrendo ao crédito. De quem é a casa? Penso que a resposta é idêntica, a casa é de quem a comprou, enquanto honrar os compromissos com a entidade que lhe concedeu o crédito.
Quando alguém deposita dinheiro num Banco de quem é esse dinheiro? Penso que será do Banco ou de quem o depositou, enquanto forem respeitados os compromissos entre ambos.
A falta de respeito pelos compromissos entre pessoas, entidades e organizações e as próprias organizações levou à falência de várias e a um desprezo gritante pela “razão” de todos os que não têm força reivindicativa. Acredito que o pior que pode acontecer a um país ou organização é a substituição da cultura da razão pela cultura da força.
Temos assistido a situações de muitas organizações gastarem o que não lhes pertence e investirem o que nunca esperam pagar, enquanto outras, honestas, assistem impotentes à destruição das posições que conquistaram e de tudo que ganharam durante uma vida.
A importância do trabalho, do rigor, da gratidão e da honestidade devem ser valores a cultivar por toda a sociedade e de uma forma ainda mais empenhada pelos políticos que nos representam ou que nos querem representar. A verdade deve ser apresentada com isenção.
Em lógica matemática quando partimos de uma premissa falsa tudo se pode concluir, ou seja se admitirmos que Bragança possui o maior aeroporto do mundo, não é falso admitir que em Bragança aterram os maiores aviões do mundo, ou seja partindo de uma mentira é admissível que essa mentira dê origem a outras mentiras que naturalmente são aceites como verdades.
Quando questiono de quem são as dívidas, é porque esse conceito dá origem a várias interpretações, pois, se na venda de um carro, comprado a crédito, forem tidas em conta as dívidas contraídas na sua aquisição, esse carro ao ser vendido vale para quem o vende a diferença entre o preço final e o que devia dele. Se as dívidas forem ignoradas esse carro vale para quem o vende exatamente o preço final.
É bom ter sempre presente que há uma diferença de 2000, entre faltarem 1000 e sobrarem 1000. É nesta diferença que, por vezes, se constroem mentiras ou se navega numa verdade duvidosa, mas apresentada, por muitas pessoas, como insuspeita e inquestionável.