A opinião de ...

Acabou o recreio

Enquanto estudante, o momento mais ansiado era, também, o mais temido. Se o toque da campainha indicava que era hora de deixar a sala de aula e ir para o recreio, novo toque, passado um piscar de olhos (era a sensação com que ficava qualquer estudante) indicava a obrigação de regressar ao mundo real, arregaçar as mangas e tomar novamente o lugar à secretária de trabalho.

Durante o último mês e meio, vivemos no período do recreio. O Presidente tocou a campainha que mandou todos para o recreio durante uns minutos mas, esta semana, o regresso dos deputados ao Parlamento é o toque para o regresso ao mundo real, do trabalho, após semanas de regabofe em campanha eleitoral.

Por isso, e por se tratar da vida dos portugueses, é altura de os políticos que nos governam perceberem que a hora do recreio já acabou e que é necessário arregaçar as mangas, deixar de lado os jogos políticos típicos das campanhas eleitorais, cheios de bluff e soundbites, e dedicarem-se ao que é importante, gerir os destinos do país.

Tendo em conta o que aconteceu nos últimos dias no Parlamento, com a rábula da eleição do novo presidente da Assembleia da República, fica a dúvida se todos perceberam que a campainha já tocou e que a hora do recreio terminou.

Numa Assembleia em que a AD tem mais dois deputados do que o segundo partido mais votado e o seu candidato à presidência da mesa acaba por receber menos dois votos do que o candidato do PS não deixa antever nada de bom quanto à solidez do Executivo que sair do Parlamento.

E os discursos proferidos por alguns líderes partidários sobre o tratamento de ostracismo que consideram deveria ser dado ao Chega menos ainda.

O Chega sempre se assumiu como uma força política de luta contra o sistema. Quanto mais o sistema lutar contra ela, mais força dará ao partido de André Ventura. E isso ficará bem patente nas próximas eleições europeias, em que o partido de André Ventura pode ser o surpreendente vencedor.

Um anti-sistema não se combate empurrando-o cada vez mais para fora do sistema. Pelo contrário, combate-se envolvendo-o cada vez mais no sistema que ele diz combater, até que os eleitores percebem que, afinal, as diferenças não serão assim tantas.

É no meio deste cenário que o novo Governo está a ser cozinhado. A falta de entendimentos em questões tão básicas e de aparência não deixam boas indicações quanto à longevidade de uma legislatura que começa fragilizada.

Os transmontanos esperam que Luís Montenegro não esqueça as suas raízes paternas, da aldeia de Rabal (Bragança) e olhe com olhos de ver para o Interior do país, agindo em conformidade.

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