A opinião de ...

Campanhas

Cada vez mais se percebe menos o que cada partido defende durante a campanha eleitoral para as Legislativas. Com três atos eleitorais em menos de seis anos (2019, 2022 e 2024), à razão de uma campanha a cada dois anos, tem-se assistido a uma ‘futebolização’ da política.
Correndo o risco de me repetir, aquilo que se vê nas televisões, ouve nas rádios e lê nos jornais nacionais, é a repetição de frases feitas e resposta a perguntas sobre a polemicazinha do momento, com a análise exaustiva do discurso durante as horas seguintes, sobretudo à noite.
Os próprios debates tornaram-se num jogo de destruição, em que vale mais estar sempre a interromper o oponente com apartes ridículos e forçados, numa tentativa de conquistar a perceção de vitória no final pela respetiva claque, seja ela de adeptos telespectadores, seja ela de comentadores no estúdio.
No fim, vai-se a ver, e nada... nada de discussão séria e honesta sobre um tema relevante que seja. Apenas ‘bitaites’ avulsos e genéricos ou discussões vazias sobre se viabiliza, não viabiliza, com quem se alia, quem deixa de fora, numa insistência até à exaustão.
Até agora, não se ouviu uma proposta concreta para a Agricultura e muito poucas para a Justiça, por exemplo.
O que não deixa de ser particularmente grave nos candidatos a Primeiro-Ministro, sobretudo na sequência de semanas em que os agricultores portugueses saíram à rua em protestos bem audíveis, sobretudo no Nordeste Transmontano.
Com a degradação do espaço de debate, o que se degrada é a qualidade da democracia portuguesa. As eleições decidem-se cada vez mais com base na perceção, no gosto pessoal, e menos na qualidade das propostas de Governo de cada um.
Também por isso é cada vez mais importante a existência de iniciativas como a do Parlamento dos Jovens, que seleciona, a nível distrital, dois representantes de escolas secundárias para irem à Assembleia da República experimentar o que é ser deputado por um dia. Uma forma de começar a incutir nos mais novos a importância do debate público e político. Porque, da maneira que as coisas estão, a tendência de aumento da abstenção só se vai acentuar.

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