A opinião de ...

O serviço militar obrigatório ou uma outra forma de o Estado dizer presente

Durante séculos que a presença militar foi condição de desenvolvimento de territórios dentro das fronteiras, mais do que bastião de proteção das populações.
Quando D. Afonso Henriques decidiu autopromover-se de Conde a Rei – nada contra – passou a utilizar a presença militar como fator de fixação de gente e elemento definidor das fronteiras com os reinos vizinhos.
Os herdeiros do trono que se lhe seguiram continuaram essa política, nomeadamente D. Sancho I, seu filho (que ficou para a história com o cognome de ‘Povoador’ por alguma razão, lembrava-me ainda esta semana o amigo Abílio Lousada).
Fosse através das ordens religiosas militares, primeiro, fosse através da presença de aquartelamentos nos castelos e fortes, depois, a verdade é que a presença militar no interior do país acabou por desempenhar um papel fundamental na fixação de pessoas nas terras mais inóspitas, como era o caso do Nordeste Transmontano.
Com o evoluir da arte da guerra, os aquartelamentos dos castelos foram perdendo preponderância, substituídos por fortes (o S. João de Deus, em Bragança, é disso exemplo).
Mas, no pós 25 de Abril, o desmantelamento das Forças Armadas que se seguiu, levou a um encolhimento da presença do Estado em todo o território de fronteira, que levou nova machada com a extinção dos Governos Civis.
Numa altura em que se discute a reintrodução do serviço militar obrigatório (não estou a ver maturidade para essa discussão em Portugal sem que haja uma imposição europeia, ao jeito do federalismo e de um exército único da União), mais do que falar sobre a obrigação de os jovens irem à tropa e as suas vantagens e desvantagens, se calhar seria mais profícuo refletir sobre as Forças Armadas que queremos e o contributo que podem dar para o território e a sua defesa. A abolição das fronteiras veio há muito colocar em causa a ideia da necessidade da presença militar junto da raia.
Contudo, mais do que uma defesa armada contra os inimigos do outro lado da fronteira, as FA poderiam desempenhar um fator primordial no combate às assimetrias litoral/interior, possibilitando a fixação de população jovem nos territórios mais desfavorecidos.
Neste momento, a presença militar limita-se praticamente aos grandes centros do litoral (Viseu é a exceção). Com umas FA esvaziadas de funções que não fazer rondas e pouco mais, também não há fatores de apelo para os jovens se alistarem.
Agora, as FA poderiam desempenhar papel preponderante na defesa da floresta, na organização do território – sobretudo do rural – no apoio a obras de engenharia essenciais às populações do Interior, como a construção de charcas nas zonas florestais, manutenção de caminhos com os seus regimentos de infantaria, corta-fogos, etc.
Com uma maior presença militar no terreno, junto das populações, e tendo um desígnio no dia a dia, com certeza que o número de candidatos iria aumentar, assim como o desenvolvimento das localidades mais interiores.
Afinal, quem não é visto não é desejado.

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