A opinião de ...

Porque têm os partidos medo de dar a voz ao povo?

O próximo dia 20 de fevereiro tem tudo para ficar manchado na história da democracia portuguesa.
É nesse dia que será discutida na Assembleia da República a despenalização da eutanásia. Um tema que entra à socapa na casa das leis, sem sequer ter sido discutida em campanha eleitoral e poucos meses depois de o assunto já ter sido chumbado na mesma Assembleia da República.
Aproveitando a reconfiguração de forças no Parlamento, partidos como PS e Bloco de Esquerda vão querer fazer aprovar, sem grande discussão popular, uma medida que mexe, literalmente, com o futuro existencial de um povo.
Se há duas décadas a eutanásia ainda foi alvo de referendo (e chumbou por vontade popular) e o assunto foi chumbado no parlamento em 2019, não se percebe a voracidade em legislar novamente sobre o tema, ainda por cima descartando a hipótese de consulta popular. Um punhado de “iluminados” vai decidir sobre uma matéria essencial na vida de uma sociedade.
Numa altura em que a porta aos extremismos já foi aberta, este tipo de atuação só contribui para descredibilizar ainda mais a política e os políticos, cada vez mais embrenhados em jogos de interesse próprio do que na defesa da causa comum.
Já esta semana, a Conferência Episcopal Portuguesa, após reunião do Conselho Permanente, anunciou o apoio à realização de um referendo.
Os bispos voltaram a apelar aos profissionais de saúde para não cederem a atos como a eutanásia, o suicídio assistido “ou a supressão da vida”, mesmo em casos de doença irreversível.
“A opção mais digna contra a eutanásia está nos cuidados paliativos, como compromisso de proximidade, respeito e cuidado da vida humana até ao seu fim natural”, lê-se no documento das conclusões daquele encontro, realizado em Fátima.
O secretário da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) Manuel Barbosa, disse aos jornalistas, no final da reunião do Conselho Permanente, que o referendo, “embora a vida não seja referendável”, pode ser, nas atuais circunstâncias, uma forma “útil para defender a vida no seu todo, desde o princípio até ao seu fim natural”.
Explicava o Pe. Manuel Barbosa que este “é um assunto tão sério para a sociedade, que a sociedade tem de ser consultada”, considerando que o referendo e a necessária discussão em torno do tema se justifica também porque “o assunto não foi debatido” na campanha para as legislativas.

Afinal, os partidos têm medo de quê?

Edição
3768

Assinaturas MDB