A opinião de ...

Um futuro pouco transparente

Imagine, caro leitor, que alguém lhe diz que na próxima sexta-feira lhe vai sair o Euromilhões. Só tem de deixar que esse ‘alguém’ jogue por si, com os seus dados, em sua casa. Mas que, se não sair nada, não se preocupe, porque nada perde. É que até os 2,5 euros será esse ‘alguém’ a suportar. E se sair o primeiro prémio, será partilhado consigo…
Nas aldeias, os transmontanos tinham, em tempos, um ditado que descrevia na perfeição este tipo de situações. “Quando a esmola é demais, o santo desconfia.”
Ora, é isso que está a acontecer com a ideia de prospeção mineira no coração do Parque Natural de Montesinho.
Desde logo, estranha-se a própria lei, que impede o Estado de fazer a exploração mineira em áreas protegidas mas permite que a mesma seja feita por empresas privadas.
Logo a seguir, estranha-se ainda mais o facto de o processo de consulta pública aberto ter por descrição nomes que em nada remetem para a geografia da região, como o projeto ‘Valongo 2’. Dá a ideia de querer passar incólume pelos pingos da chuva.
A acrescentar a isso, o facto de as sessões de esclarecimento da população no concelho de Bragança terem sido todas marcadas para datas posteriores ao fecho da consulta pública (em que qualquer pessoa pode manifestar a sua opinião sobre o projeto). 
A variação no discurso de quem apresenta o projeto às pessoas também não abona em favor da credibilidade de um processo que parece inquinado desde a nascença.
Quem no seu juízo perfeito acredita que uma empresa constituída por mil euros de capital social vem ao Nordeste Transmontano investir quase 200 mil euros numa prospeção só porque sim? Para ajudar a limpar caminhos às populações e a licenciar captações de água? “Quando a esmola é demais, o santo desconfia.” Sobretudo, quando todo o processo está envolto em muita poeira, que é lançada para os olhos das pessoas.
Como é possível que uma prova de atletismo (um trail, por exemplo) não possa ser realizado na área do Parque Natural de Montesinho mas já se admita a ideia de uma exploração mineira? A quem é que isso faz sentido?
Uma exploração mineira, sobretudo a céu aberto, irá transformar o Nordeste Transmontano naquele cenário que os habituámos a ver no meio da floresta amazónica. Um cenário dantesco de destruição, ao melhor estilo marciano.
Não se iludam. Exploração mineira a céu aberto é sinónimo de poluição, destruição, não de riqueza para as populações. A riqueza, a existir, seguirá diretamente para o bolso de meia dúzia e nenhum deles residente na região.
Na sua encíclica Laudato Si, o Papa Francisco recomenda um estilo de vida focado menos no consumismo e mais em valores intemporais e duradouros. Propõe educação ambiental, alegria no ambiente de cada um, amor cívico, receção dos sacramentos e uma “conversão ecológica” na qual o encontro com Jesus leva a uma comunhão mais profunda com Deus, com as outras pessoas e com o mundo natural.
Nada disso é compatível com minas no coração de uma área protegida. A nossa área protegida.

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4012

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