E nós, aqui, tão descansados !
O mundo está perigoso por toda a parte. Mais numas regiões que noutras, mas os efeitos sistémicos dos problemas vão-se estendendo a todas.
Hoje, escrevo-vos sobre os problemas derivados dos fanatismos e intolerâncias religiosos. Os cristãos católicos já quase baniram estes dois males mas outras religiões parecem estar ainda na nossa Idade Média e tais fanatismos e intolerâncias manifestam-se entre várias religiões mas, sobretudo, sobre os cristãos católicos, perseguidos em 61 países dos 196 do mundo terrestre.
Este tema vem a propósito da apresentação do Relatório Mundial sobre a Liberdade Religiosa no Mundo (2023), elaborado e difundido pela Fundação AIS (Ajuda à Igreja que Sofre), cujos líderes Catarina Bettencourt e Paulo Aido vieram ao Santuário Mariano de Cerejais (Alfândega da Fé) apresentá-lo à Cristandade pela primeira vez. A Diocese de Bragança e a Reitoria do Santuário tudo fizeram par ter este privilégio mas o número de cristãos presentes e os parcos representantes da Igreja Diocesana não honraram os palestrantes. E, não fosse a excursão da geração grisalha, organizada desde Bragança, o auditório estaria quase vazio. Urge assim perguntar: por onde andam os cristãos, sobretudo os mais jovens, que não se fizeram representar?
Os cristãos da Ásia, do Médio Oriente e de África estão a ser perseguidos e massacrados, sobretudo pelos islâmicos, pelos hindús e pelos arautos dos Estados autoritários e ateus (China, Coreia do Norte e outros). Em todos estes casos, a esfera pública não admite o pluralismo religioso, ou sendo o Estado dominado por uma religião totalitária, que não admite nem tolera outras religiões, ou, pura e simplesmente, proibindo a actividade religiosa (no caso do Estado Ateu).
Na Europa e na América não é assim porque a religião não é assunto do Estado, que até se tornou laico, isto é, sem religião, remetendo a atividade das religiões para a esfera da vida privada, sem poder sobrepor-se às regras civis do Estado.
A laicidade do Estado trouxe consigo a diminuição da actividade religiosa tradicional procurando os cidadãos religiões mais assertivas nas mensagens salvadoras. Há até autores que afirmam que a queda do número de cristãos está directamente relacionada com a perda de assertividade e de mobilização dos líderes religiosos cristãos.
Parece certo que a diminuição do número de cristãos é um fenómeno mais complexo, multivariável, e atravessado pelo hedonismo do Estado Social, desmobilizador dos cidadãos pela satisfação da maior parte das necessidades deles. Este aspecto parece mais determinante do que o positivismo científico na explicação da realidade, em substituição da fé.
A abstenção da prática religiosa parece preocupante em todas as gerações mas, sobretudo, nas gerações jovens. O Estado Laico esqueceu-se da formação religiosa na Escola, que não significa ensinar uma religião mas os princípios das religiões mais importantes e a natureza da actividade religiosa. Curiosamente, o Estado Novo fez isso na disciplina de História e, de aí, a nossa tolerância para com as diversas religiões.
A falta de formação religiosa da população gera indiferença face às perseguições dos cristãos no mundo, mas eles são as muralhas exteriores do «castelo» que nos defende. Se não os ajudarmos, também nós viremos a ser perseguidos.